terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Quando Cosmovisões Colidem: C.S.Lewis e Freud - Parte I de II

Armand Nicholi


Série de palestras que deram origem ao livro acima.

Tradução: Vitor Grando
vitor.grnd@gmail.com
DespertaiBereanos.blogspot.com
Dr. Armand Nicholi é professor da Escola de Medicina de Harvard há 20 anos. Ele também ministra um curso popular na Universidade de Harvard sobre as cosmovisões contrastantes de Sigmund Freud e C.S.Lewis.


C.S. Lewis e Sigmund Freud: uma comparação de seus pensamentos e de suas visões sobre a vida, a dor e a morte.

O seguinte artigo é adaptado de uma preleção do Dr. Armand Nicholi em uma reunião de alunos e professores promovido pela Dallas Christian Leadership na Southern Methodist University em 23 de Setembro de 1997. A parte dois aparece na The Real Issue de Março de 1998 e aborda a mudança de cosmovisão de Lewis e sua conversão

As cosmovisões de Sigmund Freud e C.S. Lewis, ambas predominantes na nossa cultura hoje, apresentam interpretações diametralmente opostas de quem nós somos, nossa identidade, de onde viemos, de nossa herança cultural e biológica e de nosso destino. Primeiro, vamos arrumar as bases para nossa discussão fazendo três perguntas. Quem é Sigmund Freud? Quem é C.S.Lewis? E o que é uma cosmovisão?

Poucos homens influenciaram mais a estrutura moral de nossa civilização do que Sigmund Freud e C.S. Lewis. Freud foi o médico Vienense que desenvolveu a psicanálise. Muitos historiadores colocam suas descobertas ao lado das de Plank e Einstein. Suas teorias proveram um novo entendimento sobre como nossas mentes funcionam. Suas idéias permeiam diversas disciplinas incluindo a medicina, literatura, sociologia, antropologia, história e o direito. A interpretação do comportamento humano no direito e na crítica literária é profundamente influenciada pela suas teorias. Seus conceitos estão tão permeados na nossa linguagem que nós usamos termos como repressão, complexo, projeção, narcisismo, ato falho e rivalidade fraterna sem sequer nos apercebemos de sua origem.

Devido ao inegável impacto de seu pensamento na nossa cultura, os estudiosos se referem a esse século como o "século de Freud". Por que isso? À luz do que sabemos hoje, Freud é continuamente criticado, desacreditado, e difamado; ainda assim sua figura continua a aparecer em capa de revistas e artigos de primeira página em jornais como o The New York Times. As recentes pesquisas históricas intensificaram o interesse nas controvérsias em torno de Freud e seu trabalho. Como parte de seu legado intelectual, Freud defendeu veementemente uma filosofia de vida secular, materialista e ateísta.

Apesar do fato de C.S.Lewis ter conquistado reconhecimento intelectual muito antes de sua morte em 1963, seus livros acadêmicos e populares continuaram a vender milhões de cópias por ano e sua influência continua a crescer. Durante a Segunda Guerra Mundial, os pronunciamentos de Lewis no rádio fizeram sua voz a segunda mais reconhecida na BBC perdendo apenas para Churchill. Nos anos que se seguiram, a foto de Lewis apareceu na capa da Times e outras revistas importantes.

Hoje, a grande quantidade de livros pessoais, biográficos e literários sobre Lewis, o grande número de sociedades sobre C.S.Lewis em universidades; os periódicos e jornais sobre C.S.Lewis; como também o recente filme e peça sobre sua vida confirmam o sempre crescente interesse nesse homem e na sua obra. Como um jovem membro da universidade de Oxford, Lewis mudou de uma visão secular e ateísta para uma espiritual; uma cosmovisão que Freud frequentemente atacava, mas a qual Lewis abraçou e definiu em muitos de seus escritos após a conversão. Tanto Lewis quanto Freud possuíam dons literários extraordinários. Freud ganhou o prêmio Goethe de literatura em 1930. Lewis, que ensinou em Oxford e foi catedrático de Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge, produziu alguns dos maiores criticismo literários e possui uma grande quantidade de livros acadêmicos e de ficção vastamente lidos.

Cosmovisões conflitantes.

Agora, sobre a questão da definição de "cosmovisão". Em 1933, numa preleção chamada "A questão da Weltanschauung," Freud definiu cosmovisão como "uma construção intelectual que resolve todos os problemas de nossa existência, uniformemente, sobre o fundamento de uma hipótese dominante."

Todos nós, quer nos apercebamos ou não, temos uma cosmovisão; temos uma filosofia de vida, nossa tentativa de fazer nossa existência ter sentido. Ela contêm nossas respostas às principais questões que dizem respeito ao sentido de nossas vidas, questões que nos perturbam em algum período de nossas vidas, e que nós frequentemente pensamos apenas quando acordamos às três da manhã. O resto do tempo que estamos sozinhos nós temos o rádio e a televisão ligados que impedem que fiquemos sozinhos com nós mesmos. Pascal dizia que a única razão de nossa infelicidade é que nós não conseguimos ficar sozinhos num quarto. Ele alegou que nós não gostamos de confrontar a realidade de nossas vidas; a condição humana é tão basicamente infeliz que nós fazemos de tudo para nos distrair de pensar nisso.

O vasto interesse e permanente influência das obras de Freud e Lewis se originam nem tanto de seus estilos literários singulares, mas mais do apelo universal que tem as questões que eles trabalharam; questões que permanecem extraordinariamente relevantes às nossas vidas pessoais e à nossa crise social e moral contemporânea.

A partir de visões diametralmente opostas, eles falaram sobre questões como, "Há sentido e propósito para a existência?" Freud diria, "Certamente não! Não podemos nem, do nosso ponto de vista científico, abordar a questão de se há ou não sentido para a vida." Mas ele afirmaria que se você observar o comportamento humano, perceberá que o principal propósito da vida parece ser a conquista da felicidade e do prazer. Assim Freud delineou o "principio do prazer" como uma das principais características de nossa existência.

Lewis, por outro lado, disse que o sentido e propósito são encontrados na compreensão do porquê estamos aqui em relação ao Criador que nos fez. Nosso propósito principal é estabelecer um relacionamento com esse Criador. Freud e Lewis também discutiram as fontes da moralidade e da consciência. Todos os dias nós acordamos e fazemos uma série de decisões que nos sustentam ao longo do dia. Essas decisões são geralmente baseadas no que nós consideramos que é certo: o que nós valorizamos, nosso código moral. Decidimos estudar com afinco e não usar as idéias de outras pessoas, por que de alguma forma isso é parte de nosso código moral. Já Freud disse que nosso código moral vem da experiência humana, como nossas leis de tráfego. Nós fazemos os códigos por que eles são convenientes para nós. Em algumas culturas você dirige na esquerda, em outras você dirige na direita.

Mas Lewis discordaria disso. Ele disse que apesar das diferenças culturais, há um código moral básico que transcende a cultura e o tempo. Essa lei não é inventada, como as leis de tráfego, mas é descoberta, como as verdades matemáticas. Então, Freud e Lewis tinham um entendimento completamente diferente da fonte da verdade moral.

Lewis e Freud também falaram sobre a existência de uma inteligência além do universo; Freud disse "Não", Lewis disse "Sim". Suas visões os levaram a discutir o problema dos milagres na era científica. Freud alegou que os milagres contradizem tudo que aprendemos através da observação empírica, eles não ocorrem de fato. Entretanto, Lewis perguntaria; "Como sabemos que eles não ocorrem? Se há alguma evidência, a filosofia que você trás para interpretar a evidência determina como você interpretará." Então, de acordo com Lewis, nós precisamos entender se nossa filosofia exclui os milagres e, portanto, afeta nossa interpretação da evidência.

Tanto Freud quanto Lewis falaram muito sobre a sexualidade humana. Freud considerava todo tipo de amor uma forma de sexualidade sublimada, até mesmo o amor entre amigos. Lewis disse que qualquer um que pense que a amizade é baseada em sexualidade nunca teve um amigo realmente.

Eles também discutiram o problema da dor e do sofrimento. Freud era extremamente perturbado por esse problema, e Lewis escreveu alguns maravilhosos livros que ajudam a explicar o problema do sofrimento que todos nós experimentamos. O Problema do Sofrimento [Editora Vida] é uma discussão bastante intelectual da questão. Quando a mulher de Lewis morreu, ele escreveu Anatomia de uma dor [Editora Vida], que eu recomendo enfaticamente. As pessoas da minha área dizem que esse é o melhor trabalho sobre o processo de luto.

E, é claro, ambos discutiram o que Freud chamou de "O doloroso mistério da morte". Mas eu voltarei a isso mais tarde. Cada uma das questões que eu abordei são filosóficas por natureza. É significante notar que os trabalhos filosóficos de Freud tiveram mais influência na secularização da cultura do que seus trabalhos científicos. Eu vou discutir dois desses temas.

Deus em Questão

Primeiro, a existência de uma inteligência para além do universo, o que os cientistas modernos chamam de "A questão de Deus". Norman Ramsay, professor de física de partículas em Harvard, ganhou o Prêmio Nobel de Fìsica em 1989. Ele me disse recentemente que mesmo em seu campo, os cientistas tem se tornado interessados na questão de se há ou não uma inteligência para além do universo. Ele disse que é uma área de interesse relativamente recente para eles e que tem sido provocada principalmente pela aceitação da teoria do Big Bang. Eu repliquei dizendo que eu não entendi bem a relação. Ele disse, "Bem, quando acreditava-se que o universo não tinha começo era mais fácil, pois ninguém tinha que se preocupar com o que veio antes. Mas desde que alguém aceita a idéia de que o universo teve um inicio num ponto especifico do tempo, tem que pensar também sobre o que ocorreu antes. Então os físicos agora estão pensando sobre questões que somente teólogos e filósofos pensaram no passado."

Ao olharmos para o mundo ao nosso redor, nós fazemos uma de duas suposições: ou vemos o mundo como um acidente e nossa existência neste planeta como uma questão de pura chance, ou presumimos alguma inteligência para além do universo que não só provê ao universo um desenho e ordem, mas também provê sentido e propósito à vida. Como vivemos nossas vidas, como terminamos nossas vidas, o que percebemos, como interpretamos o que percebemos, tudo é formado e influenciado consciente ou inconscientemente por uma dessas duas suposições básicas.

Tendo isso em mente, Freud dividiu todas as pessoas entre "crentes" e "descrentes". Descrentes incluem todos aqueles que se consideram cínicos, céticos, escarnecedores, agnósticos ou ateus. Crentes incluem o resto, cuja crença varia desde um mero assentimento intelectual de que há algo ou alguém além deste mundo até aqueles como Lewis, Agostinho, Tolstoy e Pascal que tiveram uma experiência transformadora depois da qual sua fé se tornou o principal princípio motivador e organizador de suas vidas.

Freud foi de encontro, clara e enfaticamente, à noção de que há "Alguém" além deste mundo. Ele descreve sua cosmovisão como secular e a chama de "cientifica", e ele alegou que não há nenhuma outra fonte de conhecimento do universo que não seja "a cautelosa observação, o que chamamos de pesquisa." Logo, nenhum conhecimento, ele disse, pode ser derivado de revelação ou intuição. Ele afirmou que a noção do universo criado por um ser "parecido com o homem mas exaltado em cada aspecto, um super homem idealizado, reflete a grotesca ignorância dos povos primitivos." Ele afirmou que nenhuma pessoa inteligente pode aceitar os absurdos da cosmovisão religiosa.

Freud descreveu o conceito de Deus como uma simples projeção do desejo infantil de proteção por um pai todo-poderoso. Ele acrescentou que "a religião é uma tentativa de controlar o mundo sensorial, no qual estamos situados, por um mundo que desejamos que é desenvolvido dentro de nós como um resultado de anormalidades biológicas e psicológicas."

Ele concluiu que a visão religiosa é "tão patética e absurda e... infantil que é humilhante e vergonhoso pensar que a maioria das pessoas jamais se sobreporão a isso." Apenas por um breve período quando era estudante sob a orientação de um brilhante filósofo chamado Franz Brentano, um crente devoto, Freud duvidou de seu ateísmo, mas ele afirmou que continuou descrente pelo resto de sua vida. Um ano antes de sua morte, Freud escreveu para Charles Sanger, "Nem na minha vida privada nem nos meus escritos eu deixei em segredo o fato de ser um completo descrente."

Quando examinamos o relato cuidadosamente nós descobrimos que Freud talvez não estivesse tão certo de seu ateísmo quanto ele proclamava. Certamente ele se referia a si mesmo frequentemente como "um Judeu infiel" e ele rejeitou completamente a visão religiosa do universo, especialmente a visão Judaico-Cristã. Ele certamente atacou essa visão com todo seu poderio intelectual e de todas as perspectivas possíveis. Mas ainda assim, por alguma razão ele permaneceu ocupado com estas questões; ele simplesmente não conseguia deixá-las de lado. Ele passou os últimos trinta anos de sua vida escrevendo sobre tais questões.

Num estudo autobiográfico ele disse que essas questões filosóficas e religiosas o interessaram por toda sua vida desde sua juventude. Um grande número de evidências revelam que a cosmovisão de Freud não o deixavam confortável. A fé, de forma alguma, era caso concluído para ele, e ele era extremamente ambivalente quanto à existência de Deus.

Anna Freud, filha e Freud que faleceu há alguns anos atrás, me explicou a única forma de conhecer seu pai: "Não leia suas biografias;" ela instruiu, "leia suas cartas." Por todas suas cartas, Freud faz afirmações como, "Se algum dia nós nos encontrarmos lá em cima", "minha única, e secreta oração," e afirmações sobre a graça de Deus. Durante os últimos trinta anos de sua vida, Freud manteve uma constante troca de centenas de cartas com o teólogo Suiço, Oskar Pfister. É interessante notar que sua correspondência mais longa foi exatamente com este teólogo. Ele admirava Pfister e escreveu, "Você é um verdadeiro servo de Deus... que sente a necessidade de fazer um bem espiritual para todos que você encontra. Você fez isso por mim também." Ele, posteriormente, disse que Pfister estava, "na honrosa posição de poder levar homens à Deus."

Será isso apenas formas de expressão? Poderíamos dizer isso de qualquer um, menos de Freud, que alegava que mesmo um ato falho da fala tem um sentido.

O Problema da Dor e do Sofrimento

Eu tenho estudado os escritos de Freud como também suas cartas por muitos anos e eu concluí que o principal obstáculo que Freud tinha com a idéia de um ser inteligente além do universo era sua incapacidade de conciliar um Deus bom e todo-poderoso com o sofrimento que todos nós experimentamos em certa intensidade. Numa carta para Pfister, em 1928, Freud escreveu, "E por último, deixe-me ser indelicado. Como diabos você concilia tudo que experimentamos e esperamos nesse mundo com sua suposição de um ordem moral mundial?" E depois, numa preleção em 1944, ele disse: "Não parece ser o caso de haver um poder no universo que observa o bem-estar dos indivíduos com cuidado paternal e dirige seus interesses em direção à um final feliz. Pelo contrário, os destinos da raça humana não podem ser harmonizados nem com a hipótese de uma benevolência universal nem com a parcialmente contraditória hipótese de justiça universal. Terremotos, tsunamis, complicações que não fazem nenhum distinção entre os virtuosos e piedosos e os imorais e descrentes. Mesmo quando o que está em questão não é a natureza inanimada, mas quando o destino individual depende de suas relações com outras pessoas, não é de maneira alguma a regra de que o mal é punido e o bem recompensado. Frequentemente são os espertos e impíos que usufruem das boas coisas do mundo e o piedoso não usufrui de nada. São poderes obscuros, insensíveis e sem amor que determinam nosso destino. Os sistemas de recompensas e punições, que a religião descreve como governo do universo, parece não existir." Eu me pergunto quantos de nós pelo menos uma vez não nos sentimos assim. Freud parecia não estar ciente, é claro, de que na cosmovisão Biblíca o governo do universo está temporariamente em mãos inimigas. Antes de Anna Freud falecer, eu lhe perguntei sobre a dificuldade de seu pai com o problema do sofrimento, e ela expressou grande curiosidade em relação a isso. Num determinado momento ela me disse, "Como você explica o sofrimento no mundo? Há alguém lá em cima que diz, 'Você terá câncer. Você tuberculose', e distribui adversidades?" Eu disse que não sabia exatamente como responder à pergunta, mas eu sei que ela respeitava Oskar Pfister. Eu disse que pessoas como Pfister descreveriam a presença de um poder maligno no universo que é responsável por parte do sofrimento. Anna pareceu interessada nessa noção e voltou frequentemente a ela na nossa conversa. Devemos lembrar que Freud sofreu consideravelmente em sua vida, emocionalmente como um Judeu crescido na profundamente Católica Viena, e fisicamente com o câncer intratável na boca com o qual ele lutou por dezesseis anos de sua vida. Os procedimentos médicos não eram bem desenvolvidos na época e o causaram uma grande dose de dor física. Então precisamos ter isso em mente quando tentamos entender como ele se sentia. C.S.Lewis, ao longo da primeira metade de sua vida, também se descreveu, como Freud, como um "completo descrente". Se Freud duvidou de sua descrença quando estava na faculdade, Lewis se regozijava na sua descrença quando estudante em Oxford. Ele expressou um forte cinismo e hostilidade em relação à pessoas que ele chamava de "crentes" e compartilhava do pessimismo de Freud em relação a vida. Quando tinha trinta e três anos, já um membro popular de Oxford, Lewis experimentou uma profunda e radical mudança em sua vida e em seu pensamento. Ele rejeitou a cosmovisão materialista e ateísta e abraçou uma forte fé em Deus e em Jesus Cristo. Essa conversão de uma cosmovisão para outra começou uma fonte inesgotável de livros acadêmicos e populares que influenciaram milhões de pessoas.


Na segunda parte de Quando Cosmovisões Colidem, o Dr. Armand Nicholi discute as visões de C.S. Lewis sobre a vida, a dor e a morte. Aguardem...


Traduzido do original, disponível em: http://www.leaderu.com/real/ri9801/nicholi.html

Projeto Paul Washer

domingo, 30 de novembro de 2008

Uma Perspectiva Cristã Sobre a Homossexualidade - William Lane Craig


William L. Craig é doutor em Teologia pela Universidade de Munique e em Filosofia pela Universidade de Birmingham. Craig é o maior apologista Cristão de nossos tempos. Hábil debatedor, ele já enfrentou grandes pensadores céticos como Antony Flew, Bart Ehrman, John D. Crossan nos campi de Universidades como Harvard, Oxford e Princeton debatendo tópicos como a existência de Deus e a historicidade da ressurreição de Cristo. É autor dos livros A Veracidade da Fé Cristã e Filosofia e Cosmovisão Cristã. Neste artigo ele desenvolve uma perspectiva cristã sobre a delicada, e contemporânea, questão da homossexualidade.

Tradução: Vitor Grando
vitor.grnd@gmail.com
DespertaiBereanos.blogspot.com

Uma das questões mais importantes e voláteis que a Igreja enfrenta hoje é a questão da homossexualidade como um estilo de vida alternativo. A Igreja não pode se esquivar dessa questão. Eventos como o brutal assassinato de Matthew Shepherd, o estudante homossexual de Wyoming, ou os recentes escândalos envolvendo padres pedófilos, que abalaram a Igreja Católica, servem para trazer essa questão para o centro da cultura Americana

Cristãos que rejeitam a legitimidade do estilo de vida homossexual são geralmente taxados de homofóbicos, intolerantes e até odiosos. Há uma grande intimidação em relação a essa questão. Algumas igrejas inclusive têm aprovado o estilo de vida homossexual e aceitam aqueles que praticam a homossexualidade como ministros da igreja.

E não pense que isso só tem acontecido em igrejas liberais. Um grupo de evangélicos chamado Evangelicals Concerned é um grupo de pessoas que aparentam ser cristãos nascidos-de-novo, crentes na Bíblia, mas também homossexuais praticantes. Eles alegam que a Bíblia não proíbe a atividade homossexual ou que seus mandamentos não são válidos para hoje, mas são apenas reflexo da cultura na qual eles foram escritos. Essas pessoas podem ser ortodoxas em relação à Jesus e todas as outras áreas de ensino; mas eles pensam que é correto ser um homossexual praticante. Eu lembro de ouvir um acadêmico do Novo Testamento numa conferência profissional relatar a história de que uma vez foi falar em um de seus encontros. "As pessoas estavam seriamente preocupadas sobre o que você iria dizer," seu anfitrião disse depois do encontro. "Por quê?" ele perguntou surpreso. "Você sabe que eu não sou homofóbico!" "Ah, não, não era essa a preocupação", seu anfitrião afirmou. "Eles temiam que fosse você ser muito histórico-crítico!"

Então quem somos nós para dizer que esses aparentes cristãos sinceros estão errados?

Essa é uma pergunta muito importante. Quem somos nós para dizer que eles estão errados? Mas essa pergunta levanta uma pergunta ainda mais profunda, que deve ser respondida primeiro: o certo e o errado realmente existem? Antes de determinar o quê é certo ou errado, você tem que saber se realmente há um certo e errado.

Bem, qual é a base para dizer que o certo e o errado existem, que realmente há uma diferença entre os dois? Tradicionalmente, a resposta tem sido que os valores morais se baseiam em Deus. Deus é, pela Sua própria natureza, perfeitamente santo e bom. Ele é justo, paciente, misericordioso, generoso - tudo que é bom vem dele e é um reflexo de Seu caráter. Agora, a natureza perfeitamente boa de Deus se traduz em mandamentos para nós, que se tornam nossos deveres morais, por exemplo, "Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, entendimento e força", "Amarás o teu próximo como a ti mesmo", "Não matarás, furtarás, ou cometerás adultério". Essas coisas são certas ou erradas baseadas nos mandamentos de Deus, e os mandamentos de Deus não são arbitrários, mas fluem necessariamente de Sua natureza perfeita.

Esse é o entendimento Cristão de certo ou errado. Existe realmente um ser como Deus, que criou o mundo e nos criou à Sua imagem. E ele, realmente, nos ordenou certas coisas. Somos, realmente, obrigados a fazer certas coisas (e a não fazer outras). Moralidade não está apenas em sua mente. Ela é real. Quando falhamos em cumprir os mandamentos de Deus, nós estamos culpados perante Ele e necessitamos de Seu perdão. O problema não é só que nos sentimos culpados; nós realmente somos culpados, não importando como nos sentimos. Eu posso não me sentir culpado porque eu tenho uma consciência insensível, cauterizada pelo pecado; mas se eu tiver quebrado um mandamento de Deus, eu sou culpado, não importando como eu me sinta.

Então, por exemplo, se os Nazistas tivessem vencido a Segunda Guerra e alcançassem o objetivo de lavar a mente ou exterminar quem quer que discordasse deles, para que então todos pensassem que o Holocausto tivesse sido algo bom, ainda assim seria errado, porque Deus afirma que é errado, não importando a opinião humana. Moralidade é baseada em Deus, então o certo e o errado existem realmente e não são afetados pelas opiniões humanas.

Eu enfatizei esse ponto por ser tão estranho para muitas pessoas na nossa sociedade hoje. Hoje muitas pessoas pensam no certo e errado não como uma questão de fato, mas como uma questão de gosto. Por exemplo, não há nenhum fato objetivo em brócolis é gostoso. É gostoso para alguns, mas ruim para outros. Pode ser ruim para você, mas é bom para mim! As pessoas pensam o mesmo em relação aos valores morais. Algo pode ser errado para você, mas certo para mim. Não há nenhum certo e errado na verdade. É apenas uma questão de opinião.

Agora, se não há nenhum Deus, então eu penso que essas pessoas estão absolutamente corretas. Na ausência de Deus tudo se torna relativo. Certo e errado se tornam relativos de acordo com diferentes culturas e sociedades. Sem Deus quem dirá que os valores de uma cultura são melhores do que os de outra? Richard Taylor, que é um proeminente filósofo americano - e não é cristão -, esclarece isso enfaticamente. Observe atentamente o que ele diz:

A idéia de... obrigação moral é clara o bastante, estabelecida essa referência a algum legislador superior... mais do que à referência ao estado. Em outras palavras, nossas obrigações morais podem... ser entendidas como aquelas que são impostas por Deus... Mas e se esse legislador mais-alto-que-o-homem não for mais levado em consideração? O conceito de obrigação moral... ainda assim fará sentido?[1]

Ele diz que a resposta é "Não." Eu cito: "O conceito de obrigação moral não é inteligível à parte da idéia de Deus. As palavras permanecem, mas o sentido se foi" [2]

Ele continua e diz:

A era moderna, repudiando a idéia de legislador divino, todavia, tem tentado manter as idéias de moralmente certo e errado, sem se dar conta que ao colocar Deus de lado eles também aboliram o sentido do certo e errado. Assim, até pessoas instruídas algumas vezes declaram que certas coisas como guerra, ou aborto, ou a violação de certos direitos humanos são moralmente erradas, e pensam que disseram alguma coisa verdadeira e com sentido. As pessoas instruídas não precisam ser lembradas, entretanto, que tais questões nunca foram respondidas à parte da religião.[3]


Você percebe o que esse filósofo não-Cristão está dizendo? Se não há Deus, se não há legislador divino, então não há nenhuma lei moral. Se não há lei moral, então não há nenhum certo e errado. Certo e errado são simples convenções humanas e leis variam de sociedade em sociedade. Mesmo se todas concordarem, continuariam sendo invenções humanas.

Então se Deus não existe, certo e errado não existem também. Qualquer coisa é válida, incluindo a homossexualidade. Então, uma das melhores maneiras de defender a legitimidade do estilo de vida homossexual é se tornar ateu. Mas o problema é que muitos defensores da homossexualidade não querem se tornar ateus. Em particular, eles querem afirmar que o certo e o errado existem. Então você os ouve fazendo julgamentos morais a todo tempo, por exemplo: "É errado discriminar os homossexuais". E esses julgamentos morais não são para serem entendidos como relativos a uma cultura ou sociedade. Eles condenariam uma sociedade como a Alemanha Nazista que lançou os homossexuais em campos de concentração, junto com os judeus e outros indesejáveis. Quando o Colorado formulou uma emenda proibindo certos direitos especiais para os homossexuais, Barbara Streisand convocou um boicote ao estado dizendo, "O clima moral no Colorado se tornou inaceitável".


Mas vimos que esses tipos de julgamentos morais não têm sentido a menos que Deus exista. Se Deus não existe, tudo é válido, incluindo a discriminação e perseguição aos homossexuais. Mas não para por aí: homícidio, estupro, tortura, abuso infantil - nenhuma dessas coisas seriam erradas, pois sem Deus não existe certo e errado. Tudo é permitido.

Então se podemos fazer julgamentos morais sobre o que é certo ou errado, temos que afirmar que Deus existe. Mas, então, a mesma pergunta que nós começamos - "Quem é você para dizer que a homossexualidade é errada?" - pode ser devolvida aos ativistas homossexuais: "Quem é você para dizer que a homossexualidade é certa?" Se Deus existe, então não podemos ignorar o que Ele diz sobre o assunto. A resposta correta ao "Quem é você...?" é "Eu? Não sou ninguém! Deus determina o que é certo e errado, e eu só estou interessado em aprender e obedecer o que Ele diz."

Então deixe-me recapitular o que vimos até aqui. A questão da legitimidade do estilo de vida homossexual é uma pergunta sobre o que Deus tem a ver com isso. Se não há Deus, então não há certo e errado, e não faz diferença que estilo de vida você escolhe - o perseguidor dos homossexuais é moralmente equivalente ao defensor da homossexualidade. Mas se Deus existe, não podemos seguir nos baseando em nossas opiniões. Temos que descobrir o que Deus acha sobre o assunto.

Então como descobrir o que Deus pensa? O Cristão diz, veja na Bíblia. E a Bíblia nos diz que Deus abomina os atos homossexuais. Logo, eles estão errados.

Então, basicamente o raciocínio é o seguinte:

(1) Somos todos obrigados a fazer a vontade de Deus.

(2) A vontade de Deus é expressa na Bíblia.

(3) A Bíblia proíbe o comportamento homossexual.

(4) Logo, o comportamento homossexual é contrário à vontade de Deus, ou é errado.

Agora se alguém resistir a este raciocínio, ele deve negar ou (2) A Vontade de Deus é expressa na Bíblia ou (3) A Bíblia proíbe o comportamento homossexual.

Vamos ver o ponto (3) primeiro: A Bíblia, de fato, proíbe o comportamento homossexual? Agora, veja como eu coloco a questão. Eu não perguntei se a Bíblia proíbe a homossexualidade, mas sim se a Bíblia proíbe o comportamento homossexual? Essa é uma distinção importante. Ser homossexual é um estado ou uma orientação; uma pessoa que tem orientação homossexual pode jamais expressar essa orientação em ações. Por contraste, uma pessoa pode se envolver em atos homossexuais mesmo sendo de uma orientação heterossexual. O que a Bíblia condena são as ações e comportamento homossexual. A idéia de uma pessoa sendo homossexual por orientação é uma característica da psicologia moderna e pode ter sido desconhecida para as pessoas do mundo antigo. Eles estavam familiarizados com os atos homossexuais, e é isso que a Bíblia proíbe.

Isso tem implicações enormes. Significa que todo esse debate sobre a questão de se a homossexualidade é algo que já nasce com o individuo ou é resultado de como você foi criado, na verdade não importa no final. O que importa não é como você recebeu sua orientação, mas o que você faz com ela. Alguns defensores da homossexualidade anseiam em provar que seus genes, e não sua criação, que determinam se você é homossexual porque então o comportamento homossexual seria normal e correto. Mas essa conclusão não se segue de jeito algum. Só porque você é geneticamente pré-disposto a algum comportamento não significa que tal comportamento é moralmente correto. Para exemplificar, alguns pesquisadores suspeitam que haja um gene que predispõe algumas pessoas ao alcoolismo. Isso significa que é correto para as pessoas com tal pré-disposição ir em frente e beber e se tornar um alcoólico? Óbvio que não! Se serve para qualquer coisa, serve para alertá-lo que deve se abster do alcoól para prevenir que isso aconteça. Agora a verdade da questão é que nós não compreendemos completamente os papéis exercidos pela hereditariedade e a criação na produção da homossexualidade. Mas isso realmente não importa. Mesmo se a homossexualidade fosse completamente genética, esse fato ainda assim não seria nada distinto de um defeito de nascimento, como fissuras palatinas ou epilepsia. Não quer dizer que é normal e que não devamos tentar corrigir.

De qualquer forma, mesmo se a homossexualidade resultar da genética ou da criação, as pessoas geralmente não escolhem serem homossexuais. Muitos homossexuais testemunham o quão agonizante é se encontrar com esses desejos e lutar contra eles, e eles te dirão que nunca escolheram ser assim. E a Bíblia não condena uma pessoa por ter orientação homossexual. O que ela condena são os atos homossexuais. É perfeitamente possível ser homossexual e ainda assim ser um cristão cheio do Espírito e nascido de novo.

Assim como um alcoólico que está limpo se levanta num encontro dos AA e diz, "Eu sou alcoólico", assim também um homossexual que está vivendo sem a prática e se mantendo puro deve estar pronto para se levantar um encontro de oração e dizer, "Eu sou um homossexual. Mas pela graça de Deus e pelo poder do Espírito Santo, eu tenho vivido separado para Cristo". E eu espero que tenhamos a coragem e amor de recebê-lo como irmão ou irmã em Cristo.


Então, mais uma vez, a pergunta é: A Bíblia proíbe o comportamento homossexual? Bem, eu já disse que sim. A Bíblia é tão realista! Você pode esperar que ela não mencione um tópico como o comportamento homossexual, mas, de fato, existem seis lugares na Bíblia - três no Antigo Testamento e três no Novo Testamento - onde essa questão é abordada diretamente - para não mencionar todas as passagens que lidam com o casamento e a sexualidade que tem implicações para essa questão. Em todas as seis passagens os atos homossexuais são inequivocamente condenados.


Em Levítico 18.22 diz que é abominação um homem se deitar com outro homem como se fosse mulher. Em Levítico 20.13 a pena de morte é prescrita em Israel para tal ato, junto com adultério, incesto e bestialidade. Agora, algumas vezes os defensores da homossexualidade interpretam essas passagens à luz de outras proibições do Antigo Testamento contra o contato com animais impuros como porcos. Assim como os Cristãos não obedecem todas as leis cerimoniais do Antigo Testamento, assim também, eles dizem, não temos que obedecer as proibições em relação aos atos homossexuais. Mas o problema com esse argumento é que o Novo Testamento reafirma a validade das proibições do Antigo Testamento sobre o comportamento homossexual, como veremos abaixo. Isso mostra que essas passagens não eram somente parte das leis cerimoniais do Antigo Testamento, que já se passaram, mas sim parte da eterna lei moral de Deus. O comportamento homossexual é um pecado sério para Deus. O terceiro lugar onde os atos homossexuais são mencionados no Antigo Testamento é na terrível história de Gênesis 19 da tentativa de abuso aos visitantes de Ló pelos homens de Sodoma, de onde se deriva a palavra sodomia. Deus destruiu Sodoma por causa da perversidade deles.

Agora, se isso não é o bastante, o Novo Testamento também proíbe o comportamento homossexual. Em 1 Coríntios 6.9-10 Paulo escreve, "Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idolatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus." A palavra traduzida como "sodomita" se refere, na literatura Grega, ao intercurso sexual passivo ou ativo entre homens. (Como eu disse, a Bíblia é muito realista!). Essa palavra também é citada em 1 Timóteo 1.10 junto com fornicadores, ladrões, mentirosos e assassinos como "contrário à sã doutrina". O mais longo tratamento da atividade homossexual está em Romanos 1.24-28. Aqui Paulo fala sobre como as pessoas se desviaram do Deus Criador e passaram a adorar falsos deuses criados por si mesmos.

Ele diz,

Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.


Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.


Acadêmicos liberais tem feito acrobacias para tentar dar outra explicação que não o sentido claro expresso nesses versículos. Alguns disseram que Paulo só está condenando a prática pagã do abuso de menores pelos homens. Mas tal interpretação é obviamente errada, visto que Paulo diz nos versos 24 e 27 que esses atos homossexuais são cometidos "homens com homens" e no verso 26 ele fala de atos de lesbianismo também. Outros acadêmicos têm dito que Paulo só está condenando os heterossexuais que se envolvem em atos homossexuais, mas não os homossexuais que o fazem. Mas essa interpretação é inventada e anacrônica. Já dissemos que foi apenas nos tempos modernos que a idéia de homossexual com orientação heterossexual se desenvolveu. O que Paulo está condenando são os atos homossexuais, não importando a orientação. Dado o contexto dessa passagem do Antigo Testamento e do que diz Paulo em 1 Coríntios 6.9-10 e 1 Timóteo 1.10, é claro que Paulo está proibindo tais atos. Ele vê esse comportamento como evidência de uma mente corrompida que se afastou de Deus e foi entregue por Ele à degeneração moral.

Então a Bíblia é muito clara no que diz respeito ao comportamento homossexual. É contrário ao plano de Deus e é pecado. Mesmo se não existissem todas essas passagens explicitas que lidam com os atos homossexuais, tais atos ainda seriam proibidos sob o mandamento "Não adulterarás". O plano de Deus para a atividade sexual humana é reservado para o casamento: qualquer atividade sexual fora da segurança dos laços matrimoniais - seja sexo pré-matrimonial ou extraconjugal, homo ou heterossexual - é proibida. O sexo foi desenhado por Deus para o casamento.


Alguém pode dizer que Deus fez o sexo para o casamento, então vamos permitir que os homossexuais se casem para que não estejam cometendo adultério! Mas essa sugestão é uma interpretação completamente errada da intenção de Deus para o casamento. Na história da criação em Gênesis, nos é dito como Deus fez a mulher como uma auxiliadora ideal ao homem, o complemento perfeito dado por Deus. Então é dito, "Por essa razão, deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se ambos uma só carne". Esse é o padrão de Deus para o casamento, e no Novo Testamento Paulo cita essa passagem e então diz, "Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja" (Ef. 5.32). Paulo diz que a união entre o homem e sua mulher é um símbolo vivo da unidade entre Cristo e seu povo, a Igreja. Quando pensamos nisso, podemos ver que terrível sacrilégio, que desprezo pelo plano de Deus, é a união homossexual. Isso ataca a intenção de Deus para a humanidade no momento da criação.

O que foi dito acima também demonstra o quão bobo é quando algum defensor da homossexualidade diz, "Jesus nunca condenou o comportamento homossexual, então por que deveríamos condenar?" Jesus não mencionou especificamente muitas coisas que sabemos que são erradas, tais como bestialidade ou tortura, mas isso não significa que ele as aprovou. O que Jesus faz é citar Gênesis para afirmar o padrão de Deus para o casamento como base de seu próprio ensinamento sobre o divórcio. Em Marcos 10.6-8, Ele diz, "Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea. Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne." Dois homens se tornando uma só carne no intercurso homossexual seria uma violação da ordem e intenção de Deus. Ele criou homem e mulher para seria indissoluvelmente unidos no casamento, não dois homens ou duas mulheres.

Para recapitular, então, a Bíblia clara e consistentemente proíbe a atividade homossexual. Então se a vontade de Deus é expressa na Bíblia, daí se segue que o comportamento homossexual é contrário à vontade de Deus.

Mas suponha que alguém negue o ponto (2) que a vontade de Deus é expressa na Bíblia. Suponha que ele diga que as proibições contra o comportamento homossexual eram válidas para aquele tempo e aquela cultura, mas não são mais válidas hoje. Afinal, a maioria de nós provavelmente concordaria que certos mandamentos na Bíblia são relativos à cultura. Por exemplo, a Bíblia diz que as mulheres cristãs não deveriam usar jóias e os homens não deveriam ter cabelos compridos. Mas a maioria de nós diria que apesar desses mandamentos terem uma essência atemporal - por exemplo, a regra de se vestir modestamente - esse príncipio pode ser expresso diferentemente em diferentes culturas. Da mesma forma, algumas pessoas estão dizendo que as proibições da Bíblia contra o comportamento homossexual não são mais válidas para nossos dias e Era.

Mas eu penso que essa objeção representa um sério erro de interpretação. Não há evidência de que o mandamento de Paulo em relação aos atos homossexuais sejam culturalmente relativos. Longe de ser um reflexo da cultura no qual ele escreveu, os mandamentos de Paulo eram totalmente contra-culturais! A atividade homossexual era difundida na Grécia antiga e na sociedade Romana como é hoje nos Estados Unidos, e ainda assim Paulo se posicionou contra a cultura e se opôs a ela. Mais importante, temos visto que as proibições da Bíblia contra a atividade homossexual estão enraizadas, não na cultura, mas no padrão estabelecido por Deus para o casamento logo na criação. Você não pode negar que a proibição da Bíblia sobre as relações homossexuais expressam a vontade de Deus a menos que rejeite também que o próprio casamento represente a vontade de Deus.

Bem, suponha que alguém diga, "Eu acredito em Deus, mas não no Deus da Bíblia. Por isso eu não acredito que a Bíblia expressa a vontade de Deus." O que você diria a essa pessoa?


Parece-me que existem duas formas de responder. Primeiro, você poderia tentar mostrar para ela que Deus se revelou na Bíblia. Essa é a tarefa da apologética cristã. Você pode falar sobre as evidências para a ressurreição de Jesus ou profecias cumpridas. As Escrituras nos ordenam a ter tal defesa pronta para compartilhar com qualquer um que nos perguntar por que acreditamos no que acreditamos (1Pe 3.15).

Ou segundo, você pode tentar mostrar que o comportamento homossexual é errado apelando para verdades morais aceitas pela maioria que mesmo pessoas que não crêem na Bíblia aceitam. Enquanto essa abordagem é mais difícil, todavia, eu acredito ser crucial se nós Cristãos quisermos impactar nossa cultura contemporânea. Vivemos em uma sociedade que é cada vez mais secular, cada vez mais pós-Cristã. Não podemos apenas apelar para a Bíblia se quisermos influenciar os legisladores ou as escolas públicas ou outras instituições já que a maioria das pessoas não acredita mais na Bíblia. Devemos apresentar razões que tenham um apelo maior.

Por exemplo, eu acho que muitas pessoas concordariam com o principio de que é errado se envolver em comportamento auto-destrutivo. Pois tal comportamento destrói o ser humano que é inerentemente valioso. Assim, muitas pessoas, eu acho, diriam que é errado se tornar alcoólico ou fumante viciado. Elas diriam que é bom comer bem e se exercitar. Além do mais, eu acho que quase todo mundo concordaria com o príncipio de que é errado se envolver em comportamento que prejudique uma outra pessoa. Por exemplo, nós restringimos os fumantes a certas áreas para que outras pessoas não inalem fumaça passivamente, e formulamos leis contra a embriaguês na direção para que pessoas inocentes não se machuquem. Quase todo mundo concorda que você não tem direito de se envolver em comportamento que seja destrutivo a outro ser humano.

Mas não é difícil demonstrar que o comportamento homossexual é um dos comportamentos mais auto-destrutivos e prejudiciais que uma pessoa pode se envolver. O fato não é publicamente divulgado. Hollywood e a mídia inflexivelmente tendem a colocar um ar de alegria sobre a homossexualidade, enquanto na verdade é um estilo de vida depressivo, perturbador e perigoso, tão viciante e destrutivo quando o alcoolismo ou o fumo. Mas as estatísticas que eu vou compartilhar com você estão bem documentadas pelo Dr. Thomas Schmidt no seu memorável livro Straight and Narrow?[4]

Para começar, existe uma quase compulsiva promiscuidade associada com o comportamento homossexual. 75% dos homens homossexuais têm mais de 100 parceiros durante toda a vida. Mais da metade desses parceiros são estranhos. Apenas 8% dos homens homossexuais e 7% das mulheres homossexuais têm relacionamentos que duram mais de três anos. Ninguém sabe a razão dessa promiscuidade estranha e obsessiva. Pode ser que os homossexuais estão tentando satisfazer uma profunda necessidade psicológica através das relações sexuais, necessidade que nunca é satisfeita. Homens homossexuais têm em média 20 parceiros por ano. De acordo com o Dr. Schmidt,

"O número de homens homossexuais que experimenta algo como fidelidade vitalícia se torna, falando estatisticamente, quase sem sentido. A promiscuidade entre homens homossexuais não é um simples estereótipo, e não é simplesmente a experiência maioritária - é praticamente a única experiência. Fidelidade vitalícia é quase não-existente na experiência homossexual."

Aliada à promiscuidade compulsiva o uso de drogas é difundido entre os homossexuais para aprofundar suas experiências sexuais. Os homossexuais de um modo geral são três vezes mais propensos a terem problemas com bebidas do que a população média. Estudos revelam que 47% dos homens homossexuais têm um histórico de abuso de alcoól e 51% têm um histórico de abuso de drogas. Há uma correlação direta entre o número de parceiros e o nível de drogas consumidas.

Além do mais, de acordo com Schmidt, "Existem enormes evidências de que algumas desordens mentais ocorrem com muito mais frequência entre homossexuais." Por exemplo, 40% dos homens homossexuais tem um histórico de depressão profunda. Os homens de um modo geral apresentam um histórico de depressão de apenas 3%. De forma similar, 37% das mulheres homossexuais têm um histórico de depressão. Isso leva a um alto índice de suícidio. Os homossexuais são três vezes mais propensos a tentativas de suícidio do que a população média. De fato, homens homossexuais tem um índice de tentativa de suícidio seis vezes maior do que dos homens heterossexuais, e as mulheres homossexuais tentam se suicidar duas vezes mais do que mulheres heterossexuais. Nem a depressão nem o suícidio são os únicos problemas. Os estudos revelam que os homossexuais são mais propensos à prática de pedofilia do que os homens heterossexuais. Qualquer que seja a causa dessas desordens, o fato é que qualquer um que considere a possibilidade de se envolver num estilo de vida homossexual não pode se iludir sobre onde ele está entrando.

Outro segredo bem guardado é quão fisicamente perigoso o comportamento homossexual é. Não vou descrever o tipo de atividade sexual praticada pelos homossexuais, mas deixe-me dizer que nossos corpos, macho e fêmea, foram desenhados para o intercurso sexual de uma forma que os corpos de dois homens não foram. Como resultado, a atividade homossexual, 80% é de homens, é muito destrutiva, resultando em problemas como danos à prostáta, úlceras e rupturas, incontinência crônica e diarréia.

Além desses problemas físicos, as doenças sexualmente transmissiveís são muito disseminadas entre a população homossexual. 75% dos homens homossexuais têm uma ou mais doenças sexualmente transmissíveis, não incluindo a AIDS. Isso inclui todo o tipo de infecções não-virais como gonorréia, sífilis, infecções bacterianas e parasitas. Também é comum entre os homossexuais doenças virais como herpes e hepatite B (que afeta 65% dos homens homossexuais), ambas sendo incuráveis, bem como a hepatite A e verrugas anais, que afetam 40% dos homens homossexuais. E eu sequer incluí a AIDS. Talvez a mais chocante e terrível estatística é que, deixando de lado aqueles que morrem devido a AIDS, a expectativa de vida do homem homossexual é de 45 anos aproximadamente. E a do homem comum é de 70 anos.Se você incluir aqueles quem morrem de AIDS, que agora afeta 30% dos homens homossexuais, a expectativa de vida cai para 39 anos de idade.


Então eu acredito que se pode fazer uma boa defesa de que o comportamento homossexual é errado apenas baseando-se em príncipios morais aceitos geralmente. Assim, totalmente à parte da proibição Bíblica, existem boas razões para considerar a atividade homossexual como errada.

Isso tem importantes implicações para a política pública em relação ao comportamento homossexual. Pois políticas e leis públicas são baseadas em príncipios morais aceitos por todos. É por causa disso, por exemplo, que temos leis que regulam a venda de bebidas alcoólicas de várias formas ou leis proibindo o jogo ou restringindo o fumo. Essas restrições sobre a liberdade individual são impostas para o bem comum. Da mesma forma, alguns estados, como nosso estado da Geórgia, têm leis proibindo a sodomia, e a Suprema Corte afirmou que tais leis são constitucionais. Embora essas leis não sejam obrigatórias, elas são legais à luz do risco apresentado por tal comportamento.


Agora em outros casos, leis obrigatóricas em relação à homossexualidade podem ser propostas, e os Cristãos tem que pensar bem sobre isso em relação aos individuos. Por exemplo, um Cristão pode não ver nenhuma razão para que não seja dada oportunidade igual de compra e aluguel de imóveis para pessoas que são homossexuais. Mas eu posso imaginar que um Cristão pode apresentar um projeto de lei contra as oportunidades de trabalho iguais para homossexuais. Pois alguns empregos podem ser inapropriados para tais pessoas. Por exemplo, você gostaria que uma lésbica praticante fosse a professora de educação física da sua filha na escola? Você gostaria de que o técnico do seu filho fosse um homossexual que entrasse no vestiário junto com os garotos? Eu não apoiaria uma lei que forçasse as escolas públicas a contratar essas pessoas.

Ou novamante, as aulas de saúde das escolas públicas deveriam ensinar que a homossexualidade é um estilo de vida legítimo, ou será que os estudantes deveriam ler Heather has Two Mommies (Heather tem duas mamães)? As uniões homossexuais devem ser reconhecidas como sendo tão legais quanto os casamentos homossexuais? Deveria se permitir que os homossexuais adotassem crianças? Em todos esses casos, se pode argumentar a favor de restrições às liberdades homossexuais se baseando no bem público e na saúde pública geral. Não é uma questão de impor os valores pessoais de alguém sobre outro alguém, visto que isso se baseia nos mesmos príncipios morais que são usados, por exemplo, para banir o uso de drogas ou restringir o uso de armas. A liberdade não significa licença para se envolver em ações que possam prejudicar os outros.

Recapitulando, vimos que, primeiro, o certo e errado existem porque se baseiam em Deus. Então se quisermos saber o que é certo ou errado, devemos ver o que Deus diz sobre isso. Segundo, vimos que a Bíblia consistentemente e claramente proíbe os atos homossexuais, assim como proíbe todo o ato sexual fora do matrimônio. Terceiro, vimos que as proibições Bíblicas em relação a tais comportamentos não podem ser explicadas à luz do contexto cultural nas quais fram escritas porque tais proibições estão pautadas no plano divino para o casamento homem-mulher. Além do mais, mesmo à parte da Bíblia, existem príncipios morais geralmente aceitos que implicam que o comportamento homossexual é errado.

Agora, que aplicações práticas isso tem para todos nós como individuos?

Primeiro, se você é um homossexual ou tenha essa inclinação, se mantenha puro. Se você não é casado, deve praticar abstinência de toda atividade sexual. Eu sei que isso é difícil, mas o que Deus está pedindo que você faça é simplesmente o mesmo que ele requer de todas as pessoas solteiras. Isso significa não só manter seu corpo puro, mas especialmente sua mente. Assim como o homem heterossexual deve evitar a pornografia e a imaginação, você, também, precisa manter sua vida e pensamento limpos. Resista à tentação de racionalizar o pecado dizendo, "Deus me fez assim." Deus deixou muito claro que ele não quer que você ceda aos seus pecados, mas sim que você O honre mantendo o corpo e a mente puros. Finalmente, procure aconselhamento profissional Cristão. Com tempo e esforço, você pode vir a usufruir de relações normais e heterossexuais com sua esposa. Há esperança.

Segundo, para aqueles que são heterossexuais, precisamos nos lembrar que ser homossexual não é nenhum pecado. A maioria dos homossexuais não escolheu tal orientação e gostaria de mudar se pudesse. Precisamos aceitar e apoiar carinhosamente irmãos e irmãs que lutam com esse problema. E, em geral, precisamos estender o amor de Deus a essas pessoas. Palavras vulgares e piadas sobre homossexuais jamais devem passar pelos lábios de um Cristão. Se você se encontrar tendo prazer quando alguma aflição cai sobre um homossexual ou se tem sentimentos de ódio aos homossexuais, então você precisa refletir bastante e com afinco nas palavras de Jesus relatadas em Mateus: "Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para Sodoma e Gomorra do que para você." (Mt. 10.15; 11.42).


Notas

1 Richard Taylor, Ethics, Faith, and Reason (Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1985), pp. 83-4.

2 Ibid.

3 Ibid., pp. 2-3.

4 Thomas Schmidt, Straight and Narrow? (Downer’s Gove, Ill.: Inter-Varsity Press, 1995).

Sorteio do Livro "Questões Últimas da Vida"


Graças à contribuição do nosso leitor Osmar Neves temos mais um excelente livro - dessa vez em português! - para sortear entre nossos leitores! Depois do sucesso do sorteio do livro God, Freedom & Evil do Alvin Plantinga, agora, junto com o blog Apologia, sortearemos "Questões Últimas da Vida" do grande filósofo e apologista cristão Ronald Nash. Essa é a nossa maneira de promover ainda mais a cosmovisão cristã. Certamente é uma excelente introdução à filosofia que será muito útil aos futuros filósofos e apologistas cristãos. Seguem as informações do livro:

Uma introdução à filosofia


Questões Últimas da Vida é uma obra exclusiva entre todas as introduções à Filosofia. Ela proporciona aos estudiosos uma perspectiva de fôlego e profundidade antes não disponíveis em obra dessa natureza.


“Por muitos anos, tive dificuldade para encontrar um livro-texto satisfatório para meus cursos de Introdução à Filosofia. Todos os livros que examinei e muitos dos que usei pareciam ter sido escritos não para estudantes, mas para um grupo relativamente pequeno de filósofos. Agora que está completo, este é o tipo de texto que gostaria de ter tido às mãos quando comecei a ensinar.


Este livro apresenta uma síntese de três abordagens diferentes: a primeira seção (Capítulo 1) lida com problemas e questões filosóficas importantes; a segunda (parte 1) trata de seis sistemas principais na história da filosofia, e a terceira (parte 2) relaciona o conteúdo tratado nas duas primeiras ao pensamento de cosmovisão. A diferença entre este e outros textos para iniciantes é a ênfase dada à noção de cosmovisão.”


Ronald Nash, do Prefácio

Parte 1, Seis Sistemas Conceituais, explora as seguintes filosofias:

- Naturalismo
- Platão
- Aristóteles
- Plotino
- Agostinho
- Tomás de Aquino

Parte 2, Questões Filosóficas Importantes, lança luz sobre:

- A Lei da Não-Contradição
- Mundos Possíveis
- Epistemologia I: O que aconteceu com a verdade?
- Epistemologia II: Dois sistemas Epistemológicos
- Epistemologia III: Epistemologia Reformada
- Deus I: A Existência de Deus
- Deus II: A Natureza de Deus
- Metafísica: Algumas Questões Sobre Indeterminismo
- Ética I
- Ética II
- Natureza Humana: O Problema Mente-Corpo e Sobrevivência Após a Morte

Ronald Nash, grande filósofo e apologeta, faleceu a 10 de março de 2008. Foi por longo tempo professor na Western Kentucky University, no Reformed Theological Seminary e, até 2005, no Southern Baptist Theological Seminary. Nash foi herdeiro da tradição teológica de Carl F. H. Henry e um admirador e estudioso de Agostinho, seu pensador favorito.

SORTEIO JÁ REALIZADO!



quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Teísmo, Ateísmo e Racionalidade - Alvin Plantinga


Alvin Plantinga é o filósofo da religião mais importante da atualidade. Nesse artigo, Plantinga combate a idéia de que o teísta que não tem sua crença apoiada sobre evidências seria, de alguma forma, irracional ou estaria violando seus deveres epistêmicos. Para Plantinga, tal objeção é infundada, podendo ser perfeitamente revertida contra o ateísmo.

Tradução: Vitor Grando
vitor.grnd@gmail.com
DespertaiBereanos.blogspot.com

Objeções ateológicas à crença de que há uma pessoa como Deus existem em muitas variedades. Existem, por exemplo, as objeções, que já nos são familiares, de que o teísmo é de alguma forma incoerente, que é inconsistente com a existência do mal, que é uma hipótese pouco corroborada ou até refutada pelas evidências, que a ciência moderna, de alguma forma, lançou dúvidas sobre essa crença, e por aí vai. Outro tipo de objetor alega, não que o teísmo é incoerente ou falso ou provavelmente falso (até por que, há pouco há ser dito sobre isso de forma irrefutável com argumentos) mas que, de alguma forma, não é razoável ou é irracional, mesmo se tal crença for verdadeira. Aqui nós temos, como peça central, a objeção evidencialista à crença teísta. A alegação é que nenhum dos argumentos teístas - dedutivos, indutivos ou abdutivos - são bem sucedidos; assim há no máximo evidências insuficientes para a existência de Deus. Mas então a crença de que há tal pessoa como Deus é, de alguma forma, intelectualmente imprópria - tola ou irracional. Uma pessoa que acredita sem evidências que existe um número par de patos estaria crendo de maneira tola ou irracional.; o mesmo vale para a pessoa que acredita em Deus sem evidências. Nessa visão, alguém que aceita a crença em Deus, mas não tem nenhuma evidência para tal crença não está, intelectualmente falando, apto para o debate. Entre aqueles que apresentaram essa objeção estão Antony Flew, Brand Blanshard e Michael Scriven. Talvez mais importante seja a enorme tradição oral: encontra-se essa objeção ao teísmo espalhada por todos os grandes campi universitários do mundo. A objeção em questão também foi endossada por Bertrand Russell, que uma vez após ser perguntado o que diria se, após a morte, ele se deparasse com Deus e este o perguntasse por que ele não acreditou. Russell respondeu "Eu diria, não há evidências suficientes, Deus! Não há evidências suficientes!" Eu não sei como essa resposta seria recebida; mas meu ponto é somente que Russell, como muitos outros, endossaram a objeção evidencialista à crença teísta.


Agora, qual é, exatamente, a alegação do objetor aqui? Ele afirma que o teísta sem evidências é irracional ou não é razoável. qual é a propriedade com a qual ele está creditando tal teísta quando ele assim o descreve? O que, exatamente, ou aproximadamente, ele quer dizer quando diz que o teísta sem evidências é irracional? Qual é, na visão dele, o problema com tal teísta? A objeção pode ser vista tomando pelo menos duas formas; e há pelo menos dois sentidos ou concepções correspondentes de racionalidade envolvidas. De acordo com a primeira, o teísta que não tem evidências violou um dever intelectual ou cognitivo de algum tipo. Ele contrariou uma obrigação colocada sobre ele pela sociedade ou talvez pela sua própria natureza como criatura capaz de compreender proposições e ter crenças. Há uma obrigação ou algo como uma obrigação para proporcionar à crença de alguém a força da evidência. Assim, de acordo com John Locke, a marca de uma pessoa racional é "não aceitar uma proposição com mais segurança do que a prova sobre a qual ela está apoiada pode garantir," e de acordo com David Hume, "Um homem sábio conforma suas crenças às evidências."

No século dezenove nós temos W.K. Clifford, o "adorável enfant terrible" como William James o chamou, insistindo que é monstruoso, imoral, e talvez até indelicado aceitar uma crença para a qual você tem insuficientes evidências:

Qualquer um que merecer o bem de seu companheiro neste assunto irá guardar a pureza de suas crenças com um fanatismo de zeloso cuidado, para que não se apóiem, a qualquer momento, em um objeto indigno, e peguem uma mancha que não poderá ser limpada nunca. [1]

Ele acrescenta que se uma

Crença foi aceita sobre evidências insuficientes, o prazer é roubado. Não apenas isso nos engana nos dando um sentimento de poder que na verdade nós não temos, mas é pecaminoso, roubando em rebeldia nosso dever para com a raça humana. Esse dever é de guardar nós mesmos de tais crenças como de uma pestilência, que pode rapidamente se espalhar pelos nossos corpos e pelo resto da cidade [2]

E finalmente:

Somando tudo: é sempre errado, a todo lugar, para qualquer um acreditar em algo com insuficientes evidências[3]

(Não é difícil detectar, nessas citações, o "tom de robusta simpatia" com a qual James credita à Clifford.) Nessa visão os teístas sem evidências - minha falecida avó, por exemplo - estão desobedecendo seus deveres epistêmicos e merecem nossa desaprovação. Madre Teresa, por exemplo, se ela não teve argumentos para sua crença em Deus, então ela é algum tipo de libertina intelectual - alguém que contrariou suas obrigações intelectuais e merece desaprovação ou até ação displinadora.

Agora a idéia de que existem deveres ou obrigações intelectuais é complicada, mas não implausível, e eu não quero questionar isso aqui. É menos plausível, entretanto, sugerir que eu estaria ou poderia estar contrariando meus deveres intelectuais em acreditar, sem evidência, que há tal pessoa como Deus. Primeiro, minhas crenças não estão, na sua maior parte, sob o meu controle. Se, por exemplo, você me oferece $1.000.000 para deixar de acreditar que Marte é menor do que Vênus, não há nenhuma forma de que isso aconteça. Mas o mesmo vale para minha crença em Deus: mesmo se eu quisesse, eu não poderia - sem medidas heróicas como drogas que induzem ao coma - simplesmente abandonar tal crença. (Não há nada que eu possa fazer diretamente; talvez haja algum tipo de regime que se seguido religiosamente resulte, a longo prazo, no abandono da minha crença em Deus). Mas, segundo, não parece haver nenhuma razão para pensar que eu tenho tal obrigação. Claramente eu não estou sob obrigação de ter evidências para tudo que eu creio; isso seria impossível. Mas porque, então, supor que eu tenho uma obrigação de aceitar minha crença em Deus somente se eu aceitar outras proposições que sirvam de evidências para isso? Isso de maneira alguma é auto-evidente ou simplesmente óbvio, e é extremamente difícil encontrar um argumento persuasivo para isso. Em qualquer evento, eu penso que o objetor evidencialista pode seguir uma linha mais promissora. Ele pode afirmar, não que o teísta sem evidência violou algum dever epistêmico - afinal, talvez ele não possa ajudar a si mesmo - mas que ele é de alguma forma intelectualmente falho ou desfigurado. Considere alguém que crê que Vênus é menor do que Mercúrio - não porque ele tem evidência, mas porque ele leu numa revista em quadrinhos e sempre acredita em tudo que lê em revistas em quadrinhos - ou considere alguém que afirma uma crença sobre as bases de um argumento totalmente ruim. Talvez não haja nenhuma obrigação que ele tenha falhado em cumprir; todavia sua condição intelectual é defeituosa de alguma forma. Ele apresenta algum tipo de deficiência, falha, uma disfunção intelectual de algum tipo. Talvez ele é como alguém que tem astigmatismo, ou é excessivamente desajeitado, ou sofre de artrite. E talvez a objeção do evidenciaista deve ser construída, não como a alegação de que o teísta sem evidências violou alguma obrigação intelectual, mas que ele sofre de algum tipo de deficiência intelectual. O teísta sem evidência, poderíamos dizer, é um manco intelectual.


Alternativamente, mas similarmente, a idéia pode ser que o teísta sem evidência está sob algum tipo de ilusão, um tipo de ilusão difundida que aflige a maior parte da raça humana a maior parte do tempo até então. Dessa forma Freud via a crença religiosa como "ilusões, satisfação dos mais antigos, fortes, e insistentes desejos da raça humana."[4] Ele vê a crença teísta como uma questão de satisfação de desejo. Os homens estão paralisados e aterrorizados pelo espetáculo das imponentes e impessoais forças que controlam nosso destino, mas não se dão conta disso, não compreendem a nós e nossos desejos e necessidades; eles, portanto, inventam um pai celeste de proporções cósmicas, que excede nosso pai terreno em bondade e amor como também em poder. A religião, diz Freud, é "a neurose obsessiva universal da humanidade", e está destinada a desaparecer quando os seres humanos encararem a realidade como ela é, resistindo à tendência de editá-la para comportar nossos anseios.


Um sentimento similar é apresentado por Karl Marx:

Religião... é a auto-consciência e o auto-sentimento do homem que ou ainda não se encontrou, ou (após ter se encontrado) se perdeu novamente. Mas o homem não é um ser abstrato... O Homem é o mundo dos homens, o Estado, a sociedade. Esse Estado, essa sociedade, produzem religião, produzem uma consciência mundial pervertida, porque eles são um mundo pervertido... A religião é o suspiro da criatura oprimida, os sentimentos de um mundo sem coração, assim como é o espírito de condições não espirituais. É o ópio do povo.

A abolição da religião como felicidade ilusória do povo é necessária para sua felicidade real. A necessidade de abrir mão das ilusões sobre sua condição é a necessidade de abrir mão de uma condição que precisa de ilusões [5]

Observe que Marx fala de uma consciência mundial pervertida produzida por um mundo pervertido. Essa é uma perversão de uma condição natural, direita ou correta, trazida à tona por uma ordem social pervertida e doente. Do ponto de vista de Marx e Freud, o teísta está sujeito à um tipo de disfunção cognitiva, uma certa falta de saúde cognitiva e emocional. Poderíamos colocar dessa forma: o teísta acredita como acredita somente devido ao poder dessa ilusão, dessa condição neurótica pervertida. Ele é insano, no sentido etimológico do termo: ele não é saudável. Seu equipamento cognitivo, pode-se dizer, não funciona apropriadamente; não funciona como deveria. Se seu equipamento cognitivo estivesse funcionando apropriadamente, funcionando da forma que deveria funcionar, ele não deveria estar sob o encanto de tal ilusão. Ao invés, ele encararia o mundo com a noção de que estamos sozinhos aqui, e que qualquer conforto e ajuda que ele tiver deve partir de nós mesmos. Não há nenhum Pai no céu para nos confortar, e nenhuma perspectiva de nada, depois da morte, apenas dissolução. ("Quando morremos, apodrecemos", diz Michael Scriven, em uma de suas falas memoráveis.)

Agora é claro que o teísta não mostrará muito entusiasmo com a idéia de que sofre de uma deficiência cognitiva, está sob algum tipo de ilusão coletiva endêmica à condição humana. É no máximo um ou dois teólogos liberais, interessados em novidades e ansiosos em se abrir tanto quanto possível ao secularismo contemporâneo, que abraçariam tal idéia. O teísta não se vê sofrendo de uma deficiência cognitiva. De fato, ele pode estar propenso a ver a coisa de maneira inversa; ele pode estar propenso a ver o ateu como quem está sofrendo de alguma ilusão, de algum defeito noético, de uma condição não natural, infeliz e desgraçada com consequências noéticas deploráveis. Ele verá o ateu como, de alguma forma, vitíma do pecado desse mundo - seu próprio pecado ou o pecado dos outros. De acordo com o livro de Romanos, a descrença é resultado do pecado; ela se origina num esforço de "suprimir a verdade em injustiça". De acordo com João Calvino, Deus nos criou com uma tendência a ver Sua mão no mundo ao nosso redor; "um sentimento de divindade", ele diz, "está escrito no coração de todos". Ele continua:

De fato, a perversidade do ímpio, que embora se debata furiosamente não consegue se livrar do temor de Deus, é testemunho abundante de sua convicção de que há um Deus, essa convicção é inata a todos e fixada profundamente em nós, como se estivesse na nossa essência... Disso nós concluímos que isso não é uma doutrina que deve ser primeiro aprendida no colégio, mas uma que cada um de nós traz desde o ventre materno e que a natureza não permite com que esqueçamos. [6]

Se não fosse pela existência do pecado no mundo, diz Calvino, os seres humanos acreditariam em Deus todos da mesma forma e com a mesma espontaneidade natural demonstrada na nossa crença na existência de outras pessoas, ou de um mundo externo, ou do passado. Essa é a condição natural do homem; é devido a nossa presente condição pecaminosa não natural que muitos de nós achamos a crença em Deus difícil ou absurda. O fato é, Calvino acredita, que alguém que não crê em Deus está numa posição epistemicamente defeituosa - como alguém que não acredita que sua esposa existe, ou pensa que ela é um robô construído que não tem pensamentos, sentimentos, ou consciência. Assim o crente reverte Freud e Marx, alegando que o que eles vêm como doença na verdade é saúde e o que eles vêm como saúde na verdade é doença.

Obviamente, a disputa aqui é ultimamente ontológica, ou teológica, ou metafísica; aqui vemos as raízes religiosas e ontológicas de discussões epistemológicas sobre a realidade. O que você crê ser racional depende de sua posição metafísica e religiosa. Depende de sua antropologia filosófica. Sua visão sobre que tipo de criatura é um ser humano vai determinar, no todo ou em parte, suas visões sobre o que é racional ou irracional para os seres humanos crerem; essa visão vai determinar o que você acha ser natural ou normal ou saudável em relação à crença. Então a disputa sobre quem é racional e quem é irracional aqui não pode ser resolvida com considerações epistemológicas; não é uma disputa fundamentalmente epistemológica, mas sim ontológica ou teológica. Como podemos dizer o que é saudável para os seres humanos crerem a menos que saibamos ou tenhamos alguma idéia sobre que tipo de criatura nós somos? Se você acha que ele é criado por Deus à imagem de Deus, e criado com uma tendência natural de ver a mão de Deus no mundo ao nosso redor, uma tendência natural de reconhecer que ele foi criado e é observado pelo seu criador, devendo à Ele adoração e obediência, então é claro que você não vai ver a crença em Deus como manifestação de satisfação de desejo ou como algum tipo de defeito. É muito mais como memória ou percepção sensorial, embora de algumas formas muito mais importantes. Por outro lado, se você vê os seres humanos como produto de forças evolucionistas cegas, se você acha que não há Deus e que os seres humanos são parte de um universo sem divindade, então você estará propenso a aceitar a visão de acordo com a qual a crença em Deus é algum tipo de doença ou disfunção, devido talvez, à algum tipo de problema cerebral.

Então a disputa sobre quem é saudável e quem é doente tem raízes teológicas ou ontológicas, e deve ser estabelecida nesse nível. E aqui eu gostaria de apresentar uma consideração que, eu penso que favorece a forma teísta de encarar a questão. Como eu tenho falado, tanto teístas quanto ateístas falam de alguma forma de disfunção, de faculdades cognitivas ou equipamentos cognitivos que não funcionam apropriadamente, não funcionam como deveriam. Mas como deveríamos entender isso? O que é funcionar apropriadamente? Não é um tanto quanto problemática essa idéia de funcionamento apropriado? O que é para as faculdades cognitivas um funcionamento apropriado? O que é para um organismo natural - uma árvore, por exemplo - funcionamento apropriado? Funcionamento apropriado não é algo relativo aos nossos objetivos e interesses? Uma vaca está funcionando apropriadamente quando dá leite; um jardim está como deve estar quando apresenta uma preponderância exuberante do tipo de vegetação que nós nos propomos a desenvolver. Mas então parece evidente que o que constitui funcionamento apropriado depende de nossos objetivos e interesses. Até onde a natureza em si segue o seu curso, um peixe que se decompõe em uma montanha de salmoura não está funcionando tão apropriadamente, de maneira tão excelente, quanto um peixe que esteja nadando feliz ao redor caçando peixinhos? Mas então o que significa falar de "funcionamento apropriado" em relação às nossas faculdades cognitivas? Uma parte da realidade - um organismo, parte de um organismo, um ecossistema, um jardim - "funciona apropriadamente" somente em relação à algum tipo de regra que nós impomos sobre a natureza - uma regra que incorpora nossos objetivos e desejos.

Mas de um ponto de vista teísta, a idéia de funcionamento apropriado, aplicada à nós e ao nosso equipamento cognitivo, não é mais problemática do que, vamos dizer, a idéia do funcionamento apropriado de um Boeing 747. Algo que construímos - um sistema de aquecimento, uma corda, um acelerador linear - está funcionando apropriadamente quando está funcionando na maneira que foi projetado para funcionar. Meu carro funciona apropriadamente se funciona do jeito que foi projetado para funcionar. Meu refrigerador está funcionando apropriadamente quando refrigera, se faz o que um refrigerador foi projetado para fazer. Isso, eu penso, é a raiz da idéia de funcionamento apropriado. Mas de acordo com o teísmo, os seres humanos, como cordas e aceleradores lineares, foram projetados; eles foram criados e projetados por Deus. Assim, ele tem uma resposta fácil para um conjunto relevante de perguntas: O que é funcionamento apropriado? O que é para minhas faculdades cognitivas o funcionamento apropriado? O que é disfunção cognitiva? O que é funcionamento natural? Minhas faculdades cognitivas estão funcionando naturalmente, quando estão funcionando da maneira que Deus as projetou para funcionar.

Por outro lado, se o objetor evidencialista ateológico alega que o teísta sem evidência é irracional, e se ele constrói a irracionalidade em termos de defeito ou disfunção, então ele nos deve uma explicação dessa noção. Por que ele alega que o teísta é disfuncional, pelo menos nessa área da vida? Mais importante, como ele compreende a disfunção? Como ele vê a disfunção e seu oposto? Como ele explica a idéia do funcionamento apropriado de um organismo, ou de algum sistema orgânico ou parte de um organismo? Que explicação ele dá? Presumivelmente, ele não pode ver o funcionamento apropriado do meu equipamento noético como este foi projetado para funcionar; então como ele pode dizer que é disfuncional?

Duas possibilidades vêm à mente. Primeiro, ele pode estar pensando o funcionamento apropriado como funcionamento na maneira que nos ajuda a alcançar nossos fins. Dessa forma, ele pode dizer, nós pensamos que nossos corpos estão funcionando apropriadamente e sendo saudáveis quando eles funcionam de uma maneira tal que nos permita fazer o tipo de coisas que queremos fazer. Mas, é claro, isso não será muito promissor no contexto presente; pois apesar de o objetor ateológico preferir ver o funcionamento de nossas faculdades cognitivas de uma maneira que não produza a crença em Deus, o mesmo não pode ser dito, naturalmente, para o teísta. Encarada desta forma, a objeção ateológica do evidencialista não passa da sugestão de que o ateólogo preferiria que as pessoas não acreditassem em Deus sem evidências. Isso seria uma observação autobiográfica da parte dele, tendo o interesse que tais observações têm em contextos filosóficos. Uma segunda possibilidade: funcionamento apropriado e noções similares devem ser explicadas em termos de aptidão para promover sobrevivência, seja no nível individual ou de espécies. Não há tempo para dizer muito sobre isso aqui; mas é no mínimo e imediatamente evidente que o objetor ateológico nos deveria um argumento para a conclusão de que a crença em Deus é, de fato, menos adequada para contribuir à nossa sobrevivência individual, ou à sobrevivência de nossas espécies do que é o ateísmo ou agnosticismo. Mas como seria tal argumento? Certamente a expectativa de um argumento não-circular é, de fato, desanimadora. Pois se o teísmo - teísmo Cristão, por exemplo - é verdadeiro, então parece totalmente implausível pensar que a disseminação do ateísmo, por exemplo, seria mais adequada para promover a sobrevivência de nossa raça do que a disseminação do teísmo.

Para concluir: uma forma natural de compreender tais noções como racionalidade e irracionalidade é em termos de funcionamento apropriado do equipamento cognitivo relevante. Visto desta perspectiva, a questão de se é racional acreditar em Deus sem suporte evidencialista de outras proposições é uma disputa metafísica ou teológica. O teísta tem facilidade em explicar a noção de funcionamento apropriado de nosso equipamento cognitivo: nosso equipamento cognitivo funciona apropriadamente quando funciona da maneira que Deus projetou para funcionar. O objetor evidencialista ateísta, entretanto, nos deve uma explicação dessa noção. O que ele quer dizer quando reclama que o teísta sem evidência apresenta um defeito cognitivo de algum tipo? Como ele entende a noção de mal funcionamento cognitivo?


NOTAS

[1]W.K. Clifford, "The Ethics of Belief," in Lectures and Essays (London: Macmillan, 1879), p. 183.

[2]Ibid, p. 184.

[3]Ibid, p. 186.

[4]Sigmund Freud, The Future of an Illusion (New York: Norton, 1961), p. 30.

[5]K. Marx and F. Engels, Collected Works, vol. 3: Introduction to a Critique of the Hegelian Philosophy of Right, by Karl Marx (London: Lawrence & Wishart, 1975).

[6]John Calvin, Institutes of the Christian Religion, trans. Ford Lewis Battles (Philadelphia: Westminster Press, 1960), 1.3 (p. 43- 44).

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Quem Precisa de Apologética Cristã? - William L. Craig

William L. Craig é doutor em Teologia pela Universidade de Munique e em Filosofia pela Universidade de Birmingham. Craig é o maior apologista Cristão de nossos tempos. Hábil debatedor, ele já enfrentou grandes pensadores céticos como Antony Flew, Bart Ehrman, John D. Crossan nos campi de Universidades como Harvard, Oxford e Princeton debatendo tópicos como a existência de Deus e a historicidade da ressurreição de Cristo. É autor dos livros A Veracidade da Fé Cristã e Filosofia e Cosmovisão Cristã. Neste artigo sua argumentação é a favor da necessidade e utilidade da apologética cristã. Através da sua própria experiência e da exposição de versículos Bíblicos ele nos mostra a importância da apologética para a saúde da Igreja, fortalecimento dos crentes e de uma maior influência da Igreja na cultura em que está inserida. Artigo importante tanto para os que duvidam do valor da apologética como para aqueles que já se utilizam dela na prática de evangelização e ensino. Três pequenos textos de minha autoria podem servir de introdução ao tema da apologética:
Amando a Deus de Todo o Entendimento
Atos 17,18, 19 e a Necessidade de Líderes Intelectuais na Igreja
A Responsabilidade de Batalhar pela fé


Tradução: Vitor Grando
vitor.grnd@gmail.com
DespertaiBereanos.blogspot.com

Eu fico honrado pelo privilégio de ter sido convidado para apresentar a Conferência Stob deste ano. Há uma tentação de tentar justificar a seleção como um preletor Stob apresentando um par de palestras impressionantes e acadêmicas. Mas uma ligação do presidente Plantinga me esclareceu que esse não era o propósito nem a audiência destas preleções. Eu pensei em falar sobre alguns pontos chaves da teologia filosófica cristã. Mas o presidente Plantinga me encorajou a falar sobre a questão da apologética cristã, um tópico aparentemente caro ao coração de Henry Stob, mas um tanto quanto negligenciado nos últimos anos. Ele me encorajou a refletir sobre minha experiência como apologista cristão e compartilhar alguns conselhos práticos sobre essa disciplina. Então é isso que eu decidi fazer.

Hoje nos faremos essa pergunta fundamental: Quem precisa de apologética cristã?

Para começar, eu acredito que devemos distinguir entre a necessidade e a utilidade da apologética. A distinção é importante. Pois mesmo se a apologética for absolutamente desnecessária, não se segue que ela seja inútil. Por exemplo, não é necessário saber como digitar para se usar um computador - você pode "catar milho", como eu faço - mas, todavia, a habilidade de digitar é muito útil para usar um computador. Ou ,novamente, não é necessário conservar sua bicicleta para ir pedalar, mas pode ser um benefício real mantê-la em ordem. Da mesma forma, a apologética cristã pode ser de grande utilidade mesmo se não for necessária para algum fim. Assim, em relação à apologética, precisamos nos perguntar não só "quem precisa?" mas também "para que que ela serve?"

Apologética cristã pode ser definida como um ramo da teologia cristã que procura apresentar uma garantia racional das alegações de verdade do Cristianismo. Aqueles que tratam a apologética com desdém tendem a mensurar o valor da apologética focando em sua alegada necessidade de garantir a crença cristã. Alguns pensadores, particularmente da tradição Reformada Holandesa, veem esse papel como desnecessário e algumas vezes até como mal orientado.

Agora, eu concordo plenamente com os epistemologistas Reformados contemporâneos como Alvin Plantinga que os argumentos e evidências apologéticas não são necessários para que a crença cristã seja garantida para qualquer pessoa. A alegação dos racionalistas teológicos (ou evidencialistas, como eles erroneamente são chamados hoje) de que a fé cristã é irracional na ausência de evidências positivas é difícil de ser conciliada com as Escrituras, que parecem ensinar que a fé em Cristo pode ser imediatamente fundamentada no testemunho interior do Espírito Santo (Rom. 8.14-16; 1 Jn. 2.27; 5.6-10), então os argumentos e evidências se tornam desnecessários. Em outro lugar, eu caracterizei o testemunho do Espírito Santo como auto-autenticado, e por essa noção eu quero dizer (1) que a experiência do Espírito Santo é verídica e inconfundível (apesar de não necessariamente ser irresistível ou indubitável) para quem a tem e quem a observa; (2) que tal pessoa não precisa de argumentos ou evidências suplementares para saber e saber com confiança que ele está, de fato, experimentando o Espírito de Deus; (3) que tal experiência não funciona, nesse caso, como premissa de qualquer argumento de experiência religiosa com Deus, mas sim é a experiência imediata com o próprio Deus; (4) que em certos contextos a experiência com o Espírito Santo implica a compreensão de certas verdades da religião cristã, tais como "Deus existe", "Eu estou reconciliado com Deus", "Cristo vive em mim", e por aí vai; (5) que tal experiência provê não só segurança subjetiva da veracidade do Cristianismo, mas sim conhecimento objetivo dessa verdade.; e (6) que argumentos e evidências incompatíveis com essa verdade são subjugadas pela experiência com o Espírito Santo por quem o recebe.

Evidencialistas cristãos podem insistir que mesmo se a crença cristã puder ser garantida na ausência de argumentos apologéticos positivos, ainda assim deve ter, no mínimo, recursos apologéticos defensivos para derrotar as várias objeções contra as quais é confrontada. Mas mesmo essa alegação mais modesta é precipitada, pois se o testemunho do Espírito Santo na vida de uma pessoa é suficientemente poderoso (como deve ser), então isso irá simplesmente se sobrepor a quaisquer objeções dirigidas à crença cristã, desta forma removendo a necessidade de apologética defensiva. Um crente não instruído o suficiente para refutar argumentos anti-cristãos está garantido em sua crença se baseando apenas no testemunho interno do Espírito mesmo quando confrontado com tais objeções não refutadas. Mesmo quando uma pessoa é confrontada com o que é, para ela, objeções irrespondíveis ao teísmo Cristão ela ainda assim, devido à obra do Espírito Santo, está dentro de seus direitos epistêmicos - digo mais, sob obrigação epistêmica - de crer em Deus. Visto que crenças pautadas no testemunho objetivo e verídico do Espírito são parte das invalidáveis considerações da razão, a fé do crente é garantida mesmo se não tiver nenhuma noção de argumentos apologéticos (como é o caso da maioria dos cristãos hoje e da história da Igreja)

Por contraste, o evidencialista cristão encara duras dificuldades: (1) Ele negaria o direito à fé cristã a todos aqueles que carecem da habilidade, do tempo, ou da oportunidade de entender e avaliar argumentos e evidências. Essa consequência iria, indubitavelmente, entregar milhões de pessoas que são cristãs à descrença. (2) Àqueles que foram apresentados mais argumentos convincentes contra o teísmo Cristão teriam uma desculpa justa perante Deus para sua descrença. Mas as Escrituras dizem que todos os homens não tem desculpa para não responder à revelação que possuem (Rm 1.21). (3) Essa visão cria um tipo de elite intelectual, um sacerdócio de filósofos e historiadores, que iriam ditar às massas da humanidade se é ou não racional acreditar no Evangelho. Mas certamente a fé está disponível para todos aqueles que, respondendo à ação do Espírito, clamam pelo nome do Senhor. (4) A fé fica sujeita às excentricidades da razão humana e das areias movediças das evidências, tornando a fé cristã racional em uma geração e irracional na próxima. Mas o testemunho do Espírito torna toda geração contemporânea de Cristo e assim assegura uma base sólida para a fé.

Então eu, na verdade, não penso que a apologética é necessária para que a fé cristã seja garantida. Mas não se segue daí que a apologética cristã seja, portanto, inútil ou não tenha nenhum beneficio em garantir a fé cristã. Se os argumentos da teologia natural e das evidências cristãs são bem sucedidos, então a crença cristã é garantida por tais argumentos e evidências para a pessoa que os compreende, mesmo se ainda assim essa pessoa estivesse garantida na ausência de tais argumentos. Tal pessoa é duplamente garantida em sua crença cristã, já que ela usufrui de duas fontes de garantia racional.

Pode-se pressentir os grandes benefícios de ter essa dupla garantia racional para as crenças cristãs. Ter argumentos persuasivos para a existência de um Criador e Projetista do universo ou evidências para a credibilidade histórica dos relatos do Novo Testamento sobre a vida de Jesus aliado ao testemunho interno do Espírito pode aumentar a confiança na veracidade das alegações de verdade do Cristianismo. No modelo epistemológico de Plantinga, no mínimo, teríamos uma garantia racional ainda maior para crer em tais alegações. Maior garantia racional pode fazer um descrente abraçar a fé mais prontamente ou inspirar um crente a compartilhar a sua fé com mais confiança. Além do mais, a disponibilidade de garantia racional para a veracidade das alegações de verdade do Cristianismo independente do testemunho do Espírito pode ajudar a predispor um descrente a responder à ação do Espírito quando ouvir o Evangelho e pode prover ao crente um suporte epistêmico em tempos de deserto espiritual ou de dúvida quando o testemunho do Espírito parece obscurecido. Pode-se imaginar inúmeras outras formas onde a posse de dupla garantia racional para as alegações do Cristianismo poderia ser benéfica.

Então, a pergunta é: a teologia natural e as evidências Cristãs garantem a crença cristã? Eu acredito que sim. Nos meus trabalhos públicos eu tenho formulado e defendido versões dos argumentos cosmológico, teleológico e ontológico para a existência de Deus e também tenho defendido o teísmo contra as mais proeminentes objeções à crença em Deus apresentadas por pensadores ateístas, tais como o problema do mal, o ocultamento de Deus, e a coerência do teísmo. Além do mais, tenho argumentado a favor da autenticidade das radicais alegações pessoais de Jesus e a historicidade do túmulo vazio, suas aparições post-mortem a vários indivíduos e grupos, e a inesperada crença dos primeiros discípulos de que Deus o havia feito ressurgir dos mortos. Além do mais, eu tenho argumentado, que a melhor explicação para esses fatos é a explicação dada pelos próprios discípulos: Deus fez Jesus ressurgir dos mortos.

Se esses argumentos estão corretos, então a crença no teísmo cristão é garantida pela teologia natural e pelas evidências cristãs como também pelo testemunho interno do Espírito Santo. Dessa forma, enquanto os argumentos apologéticos não são necessários para que saibamos que o Cristianismo é verdadeiro, ainda assim eles são suficientes, e essa dupla garantia racional para as crenças cristãs pode ser de grande ajuda. Assim, o sucesso da Epistemologia Reformada e a falha do racionalismo teológico de nenhuma forma implicam que a apologética é inútil ou não é importante.

Mais do que isso: mesmo se a apologética cristã não for necessária em relação à garantia racional da crença cristã, a apologética cristã pode ser útil e mesmo necessária para muitos outros fins. Permitam-me mencionar três fins em relação aos quais a apologética cristã desempenha um papel vital na sua realização.

1. Transformação da cultura. A apologética é útil e pode ser necessária para que o Evangelho seja efetivamente ouvido na sociedade ocidental hoje. De um modo geral, a cultura ocidental é profundamente pós-cristã. Isso é produto do Iluminismo, que introduziu na cultura Europeia o fermento do secularismo que já impregnou toda a sociedade ocidental. O marco do Iluminismo era o "livre-pensar", isto é, a busca de conhecimento somente pela razão humana e sem restrições. Apesar disso não levar necessariamente a conclusões não-cristãs e apesar de que a maioria dos pensadores Iluministas eram teístas, foi esse o profundo impacto da mentalidade Iluminista que fez com que os intelectuais ocidentais não mais considerem o conhecimento teológico possível. Teologia não é fonte de conhecimento genuíno e, portanto, não é ciência. Razão e religião são, portanto, contrários entre si. Somente as opiniões das ciências físicas são tidas como guias autoritativos para o nosso entendimento do mundo, e a confiante suposição é que a imagem de mundo que emerge das ciências genuínas é uma imagem completamente naturalista. A pessoa que segue a busca da razão sem retroceder acaba por se tornar ateu ou, no máximo, agnóstico.


Por que essas considerações culturais são importantes? Simplesmente porque o Evangelho nunca é ouvido no isolamento. É sempre ouvido no contexto cultural no qual vivemos. Uma pessoa que cresce num contexto cultural onde o Cristianismo ainda é visto como uma opção intelectualmente viável demonstrará uma abertura ao Evangelho muito maior do que uma pessoa que vive num ambiente secularizado. Pois para uma pessoa secularizada, acreditar em fadas e duendes é o mesmo do que acreditar em Jesus Cristo! Ou, para dar uma ilustração mais realista, é como se fossemos abordados nas ruas por um devoto de Hare Krishna que nos convida a crer em Krishna. Para nós tal convite soará bizarro, estranho e até engraçado. Mas para uma pessoa nas ruas de Bombai, tal convite seria, eu presumo, causa de reflexão séria e razoável. Eu temo que os evangélicos pareçam tão estranhos para as pessoas nas ruas de Bonn, Estocolmo ou Paris como os devotos de Krishna.

O que nos espera na América do Norte, se a secularização continuar da forma que está, já é evidente na Europa. Apesar de que a maioria dos europeus permanece afiliado nominalmente ao Cristianismo, somente 10% são praticantes, e menos da metade desses são teologicamente evangélicos. A tendência mais significante na afiliação religiosa europeia é o crescimento daqueles que se denominam como "não-religiosos" que foram de 0% da população em 1900 para mais de 22% hoje. Como resultado, a evangelização é imensuravelmente muito mais difícil na Europa do que nos Estados Unidos. Tendo vivido na Europa por treze anos, onde eu falei e evangelizei nos campi de várias universidades por todo o continente, eu posso testemunhar pessoalmente quão difícil a situação é. É difícil para o evangelho sequer ser ouvido. Por exemplo, eu lembro claramente quando eu falei na Universidade do Porto em Portugal, os estudantes eram tão incrédulos em relação ao perfil de um intelectual cristão com doutorados de duas universidades europeias que eles suspeitaram que eu fosse um impostor. Ele chegaram a telefonar para a Universidade de Louvain, na Bélgica, onde eu era um pesquisador visitante, para confirmar minha filiação à Universidade!

Os Estados Unidos estão seguindo o mesmo caminho, estando o Canadá mais a frente. A imersão do Canadá no secularismo tem sido precipitada. Em 1900 os evangélicos representavam 25% da população canadense. Em 1989 os evangélicos canadenses desceram para menos de 8% da população. Minha experiência em falar em campus de Universidades do Canadá sugere que o Canadá incorpora um tipo de cultura meio-Atlântica mais próxima do secularismo curopeu do que o seu vizinho do sul. Pluralismo e relativismo são a sabedoria convencional das Universidades canadenses. O politicamente correto e as leis que restringem a expressão nos debates de importância ética servem como armas para oprimir instituições e idéias cristãs. A imersão do Canadá no secularismo ilustra o quão importante é manter o contexto cultural simpático ao Cristianismo para a efetividade da evangelização. Felizmente, durante a última década os evangélicos Canadenses começaram a inverter essa tendência. Mas o retrocesso vai ser muito mais difícil do que o avanço porque isso está na espinha de uma cultura que se tornou oposta à cosmovisão cristã.

É por essa razão que os Cristãos que desprezam o valor da apologética pelo fato de "ninguém vir a Cristo através de argumentos intelectuais" tem a visão tão limitada. Pois o valor da apologética vai muito mais além do que o contato evangelístico imediato. A tarefa mais ampla da apologética cristã é ajudar a criar e sustentar um contexto cultural no qual o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para homens e mulheres pensantes. No seu artigo "Christianity and Culture" (Cristianismo e Cultura) o grande teólogo de Princeton, J. Greshan Machen afirmou corretamente,


Idéias falsas são o maior obstáculo à aceitação do evangelho. Podemos pregar com todo o fervor de um reformador e ainda assim só conseguir ganhar uma alma aqui e ali se permitirmos que todo o pensamento coletivo da nação seja controlado por idéias que impedem que o Cristianismo seja visto como nada mais do que uma ilusão inofensiva.

Infelizmente, o alerta de Machen permaneceu sem ser ouvido, e o Cristianismo Bíblico se restringiu intelectualmente ao isolamento cultural, do qual só começou a sair recentemente.


Agora, grandes oportunidades estão a nossa frente. Vivemos num tempo onde a filosofia cristã está experimentando um renascimento genuíno, revitalizando a teologia natural, numa época em que a ciência está mais aberta à existência transcendental de um Criador e Projetista do cosmos mais do que em qualquer tempo recente, e numa época em que a crítica bíblica tem renovado a busca pelo Jesus Histórico tratando os Evangelhos seriamente como fontes históricas da vida de Jesus e confirmado as principais características do Jesus retratado nos Evangelhos. Estamos intelectualmente equilibrados para ajudar a reformular nossa cultura de tal forma a reconquistar o fundamento perdido, para que o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para pessoas pensantes.

Agora eu posso imaginar alguns de vocês pensando, "Mas nós não vivemos uma cultura pós-moderna na qual esses apelos à apologética tradicional não são mais eficazes? Visto que os pós-modernos rejeitam os cânons tradicionais da lógica, da racionalidade, da verdade, argumentos racionais a favor da veracidade do Cristianismo não funcionam mais. Ao invés disso, na cultura de hoje deveríamos simplesmente compartilhar nosso testemunho e convidar as pessoas a participar conosco."

Na minha opinião esse tipo de pensamento não poderia ser mais equivocado. A idéia de que vivemos numa cultura pós-moderna é um mito. Na verdade, uma cultura pós-moderna é uma impossibilidade; seria algo completamente impossível de se viver. Ninguém é um pós-moderno quando o assunto é a leitura de uma bula de remédio em contraste com uma caixa de veneno de rato! É melhor você acreditar que esses textos tem um sentido objetivo! As pessoas não são relativistas quando o assunto é ciência, engenharia e tecnologia; mas elas são relativistas e pluralistas em questões de religião e ética. Mas, veja, isso não é pós-modernismo; isso é modernismo! É como o antigo Positivismo e o Verificacionismo, que afirmam que qualquer coisa que você não possa provar com os cinco sentidos é uma simples questão de gosto pessoal e expressão emocional. Vivemos num contexto cultural que continua profundamente modernista.

De fato, eu penso que o pós-modernismo é um dos mais articulados enganos criados por Satanás. "Modernismo está morto", ele nos diz, "Você não deve mais temê-lo. Esqueça-o; está morto e sepultado". Enquanto isso o modernismo, se fingindo de morto, ressurge travestido de pós-modernismo, se mascarando como um novo desafio. "Seus velhos argumentos e apologética não são mais eficazes contra esse novo advento", nos é dito. "Deixe-os de lado; eles não têm nenhum uso. Apenas compartilhe seu testemunho." De fato, alguns, cansados de longas batalhas com o modernismo, recebem com alívio a chegada do novo visitante. E, assim, Satanás nos engana e faz com que deixemos a lógica e as evidências, que são nossas melhores armas, de lado, e assim o modernismo triunfa sobre nós. Se adotarmos essa atitude suicída, as consequências para a Igreja na próxima geração serão catastróficas. O Cristianismo será reduzido a uma simples voz numa cacofonia de vozes que competem entre si, cada uma compartilhando seu testemunho e nenhuma afirmando para si a verdade objetiva sobre a realidade, enquanto o naturalismo científico molda a visão da nossa cultura em relação ao mundo como ele é.

Agora, é claro, não é preciso dizer que ao fazer apologética nós temos que ser relacionais, humildes e atrativos; mas isso de maneira alguma é um insight do pós-modernismo. Desde o ínicio os apologistas cristãos sabiam que deveríamos apresentar a razão da esperança que há em nós com "mansidão e respeito" (1 Pe 3.15). Ninguém precisa abandonar os cânons da lógica, da racionalidade e da verdade para exemplificar essas virtudes bíblicas.


E quanto a ideia de que as pessoas na nossa cultura não estão mais interessadas nem mais respondem à argumentação e às evidências racionais para o Cristianismo, nada poderia estar mais distante da verdade. Se me permitem falar sobre minhas experiências pessoais, por mais de vinte anos eu tenho falado e evangelizado em campi de universidades da América do Norte e da Europa, compartilhando o Evangelho num contexto onde eu defendo intelectualmente as alegações de verdade Cristãs. Eu sempre termino minhas preleções com uma sessão de perguntas e respostas. Durante todos esses anos ninguém jamais se levantou e disse algo como, "Seu argumento é baseado nos padrões ocidentais e chauvinistas de lógica e racionalidade" ou expressado algum outro sentimento pós-moderno. Isso jamais acontece. Se você aborda as questões no nível racional, as pessoas também respondem no nível racional. Se você apresenta evidências cientifícas e históricas para as alegações de verdade cristãs, os estudantes descrentes podem argumentar com você sobre fatos - que é exatamente o que você quer -, mas eles não atacam a objetividade da ciência ou da história. Se você apresenta uma argumento dedutivo para uma alegação de verdade cristã, os estudantes descrentes podem levantar objeções às suas premissas ou à conclusão - o que é, novamente, exatamente como uma discussão deve proceder -, mas eles não discutem o seu uso da lógica.

Agora, eu encontro estudantes que suspeitam de um preletor cristão. Por isso eles gostam de ouvir ambos os lados quando uma questão é apresentada. Por essa razão os debates são algo bastante atrativo para a evangelização universitária. Eu competi por oito anos em debates de colégio, debatendo tópicos sobre política pública como o programa de assistência militar, controle de salários e preços, e por aí vai. Eu nunca sonhei que o debate se tornaria uma atividade ministerial. Mas logo após terminar meu doutorado em teologia, eu comecei a receber convites de grupos de estudantes cristãos do Canadá para debater tópicos como "Deus existe?", "Jesus ressuscitou dos mortos?", "Humanismo vs. Cristianismo", e por aí vai. E o que eu tenho visto é que enquanto alguns poucos ou talvez até uns duzentos vem me ouvir dar uma preleção num campus, centenas e até milhares vêm ouvir um debate onde podem ouvir ambos os lados. Por exemplo, 2.200 estudantes da UC Riverside ouviram o meu debate com Greg Cavin sobre a ressurreição de Jesus. Na Universidade de Wisconsin em Madison 4.000 estudantes ouviram - na noite de um jogo de basquete! - meu debate com Antony Flew sobre a existência de Deus. Agora há pouco em Fevereiro 3.000 estudantes da Universidade de Iowa enfrentaram uma nevasca de sete polegadas [polegada = 2,54 cm] de neve para ouvir o meu debate com um professor local de Ciências da Religião conhecido pela sua aversão ao Cristianismo. Mais tarde na primavera deste ano 3.000 estudantes na Universidade de Purdue ouviram meu debate com o jovem filósofo humanista Austin Dacey sobre a questão "Deus existe?". A abordagem em todos esses debates é a abordagem da argumentação racional e das evidências. Há um tremendo interesse entre estudantes em ouvir uma discussão balanceada das razões a favor e contra à crença cristã.


Então, não se engane pensando que as pessoas na nossa cultura não estão mais interessadas nas evidências a favor do Cristianismo. O oposto é o verdadeiro. É de uma importância vital preservarmos uma cultura na qual o Evangelho é ouvido como uma opção viva para pessoas pensantes, e a apologética será a dianteira e o centro ajudando a trazer esse resultado.

2. Fortalecer os crentes. Não só a apologética é vital para a transformação da cultura, mas ela também exerce um papel vital na vida individual das pessoas. Um desses papéis é fortalecer os crentes.

Jan e eu passamos o verão de 1982 vivendo num apartamento em Berlin, me preparando para o meu exame oral em teologia na Universidade de Munique. Eu vinha me preparando por mais de um ano para esses exames críticos, e eu tinha uma pilha de notas de quase um pé de altura que eu tinha memorizado praticamente toda e revisado diariamente nos dias anteriores ao exame. Durante nosso tempo lá, nós tivemos o prazer de receber Ann Kiemel e seu marido Will enquanto eles passaram por Berlin. Ann era a preletora cristã mais popular da América. Ela era única, ela falava para individuos totalmente estranhos e os encorajava cantando algumas canções improvisadas e compartilhando sua fé. Ela era extremamente sentimental e emocional. Ela contava histórias - algumas fictícias, algumas verdadeiras - que fazem toda a audiência derramar lágrimas em minutos.


Bem, enquanto estávamos conversando um dia, eu pensei que poderia aprender algumas lições pela sua experiência. "Ann", eu perguntei, "Como você se prepara para suas mensagens?"
"Ah, eu não me preparo", ela disse.
Eu fiquei totalmente chocado. "Você não se prepara?" eu disse.
"Não", ela respondeu.
Eu fiquei totalmente desconcertado. "Bem, então, o que você faz?" perguntei.
"Ah, eu só compartilho minhas lutas."

Eu não podia acreditar. Eu estava me matando em anos de preparação para o ministério - e ela não se preparava! E não havia a menor dúvida quanto à sua eficácia. Ela alcançada milhares de pessoas com o Evangelho. Ela contava histórias de como acadêmicos cabeça-dura se desmanchavam pelas suas canções e histórias e vinham A Cristo. Eu pensei, "Por que eu estou fazendo tudo isso enquanto tudo que você precisa fazer é compartilhar suas lutas?"

Nós retornamos para os Estados Unidos naquele outono para fazer um sabático na Universidade de Arizona em Tucson, onde um ex-colega de classe vivia. Eu comparilhei com ele a minha conversa com Ann e disse como isso havia me transtornado. Ele disse algo pra mim que foi bastante confirmador. Ele me disse, "Bill, um dia essas pessoas que a Ann Kiemel trouxe ao Senhor vão precisar do que você tem para oferecer."

Ele estava certo. Emoções te levam apenas a um certo ponto, e aí você precisará de algo mais substancial. A apologética provê essa sustância. Ao falar em igrejas ao redor do país, eu frequentemente encontro pais que se aproximam de mim após o culto e dizem algo como "se você estivesse aqui há dois ou três anos atrás! Nosso filho (ou filha) tinha perguntas sobre a fé que ninguém conseguia responder, e agora ele perdeu a fé e se afastou do Senhor."

Arrebenta meu coração encontrar pais assim. Ao viajar, eu também tenho encontrado outras pessoas que me disseram como elas deixaram de apostatar por ter lido um livro apologético ou visto o vídeo de um debate. No caso delas a apologética foi um meio através do qual Deus as fez perseverar na fé. Agora, é claro, a apologética não pode garantir a perseverança, mas pode ajudar e em alguns casos, pela providência de Deus, ser até necessária. Recentemente eu tive o privilégio de falar na Universidade de Princeton sobre argumentos para a existência de Deus, e após minha preleção eu fui abordado por um jovem que queria falar comigo. Claramente segurando as lágrimas, ele me disse que há poucos anos atrás ele vinha lutando com dúvidas e estava prestes a abandonar sua fé. Alguém lhe deu um vídeo de um dos meus debates. Ele disse "Isso me salvou de perder a fé. Não há como te agradecer o suficiente."

Eu disse, "Foi o Senhor que te salvou de cair."

'Sim", ele respondeu, "mas Ele te usou. Não há como te agradecer o suficiente." Eu lhe disse o quão emocionado eu estava por ele e lhe perguntei sobre seus planos futuros. "Eu estou me graduando esse ano", ele me disse, "e eu planejo ir para o seminário. Eu vou ser pastor." Glória a Deus pela vitória na vida desse homem!

Outros estudantes que eu encontrei em Princeton estavam inscritos numa aula dada pela crítica do Novo Testamento Elaine Pagels que eles apelidaram de "aula caça-fantasmas" devido ao efeito destrutivo à fé de muitos estudantes cristãos. Eles não tinham noção de como a visão da Prof. Pagels sobre os evangelhos gnósticos estava fora de contexto com o academicismo proeminente. Foi um privilégio compartilhar com eles as bases para a credibilidade do testemunho neotestamentário sobre Jesus.

A experiência deles não é incomum. No colégio e na faculdade os jovens cristãos são intelectualmente agredidos com todo tipo de cosmovisão não-cristã aliada a um enorme relativismo. Se os pais não estão intelectualmente engajados com sua fé e não tem bons argumentos a favor do teísmo cristão e boas respostas para as perguntas de seus filhos, então estamos num verdadeiro perigo de perder nossa juventude. Não basta ensinar nossas crianças histórias simples da bíblia; eles precisam de doutrina e apologética. É difícil entender como as pessoas hoje podem ser pais sem ter estudado apologética.

Infelizmente, nossas igrejas jogaram a toalha nessa área. Não é suficiente focar em entretenimento e pensamentos devocionais bobos nos grupos de jovens e escolas bíblicas. Temos que treinar nossos filhos para a guerra. Não podemos enviá-los para o ensino médio e para a universidade armados de espadas de borracha e armaduras de plástico. O tempo de brincar já passou.

Mas a apologética Cristã faz muito mais do que salvaguardar de lapsos. Os efeitos positivos e edificantes do treinamento apologético é ainda mais evidente. Eu vejo isso toda hora nos campus de universidades onde eu debato. John Stackhouse uma vez comentou para mim que esses debates são uma versão ocidentalizada do que os missionários chamam de "encontro de poderes" . Eu acredito que isso seja uma análise perceptiva. Os estudantes cristãos saem desses encontros com uma confiança renovada em sua fé, de cabeça erguida, orgulhosos de serem cristãos, e confiantes ao falar de Cristo no campus. Algumas vezes após um debate os estudantes dizem, "Eu não posso esperar para compartilhar minha fé em Cristo!"


Muitos cristãos não compartilham sua fé com os descrentes simplesmente por causa do medo. Eles têm medo de que os não-cristãos lhe façam uma pergunta ou levante uma objeção que eles não saibam responder. E então eles escolhem ficar em silêncio e assim escondem sua luz sob o alqueire, desobedecendo o mandamento de Cristo. O treinamento apologético é um grande impulso ao evangelismo, pois nada inspira mais confiança e coragem do que saber que se tem boas razões para acreditar no que se acredita e boas respostas para as perguntas e objeções comuns que podem ser levantadas. Bom treinamento em apologética é uma das chaves para um evangelismo sem medo.

Dessa e de muitas outras maneiras a apologética ajuda a edificar o corpo de Cristo fortalecendo individualmente os crentes.

3. Evangelizar os descrentes. Poucas pessoas discordariam de mim quando digo que a apologética fortalece a fé dos Cristãos. Mas muitos diriam que a apologética não é muito útil na evangelização. "Ninguém vem a Cristo através de argumentos", lhe dirão. (Eu não sei quantas vezes já ouvi isso.)

Essa atitude negativa em relação ao papel da apologética na evangelização certamente não é a visão bíblica. Ao lermos os Atos dos Apóstolos, é evidente que era a atitude padrão dos apóstolos argumentar a favor da veracidade da visão cristã, tanto com cudeus quanto com pagãos. (ex., At 17:2‑3, 17; 19:8; 28:23‑24). Ao lidar com a audiência Judaica, os apóstolos apelaram para o cumprimento de profecias, os milagres de Jesus, e especialmente a ressurreição como evidência de que ele era o Messias (At 2:22‑32). Quando eles confrontaram as audiências gentias que não aceitavam o Antigo Testamento, os apóstolos apelaram para a obra de Deus na natureza como evidência da existência do Criador (At 14:17). Depois apelaram para as testemunhas oculares da ressurreição de Jesus para mostrar especificamente que Deus se revelou em Jesus Cristo (At 17:3031; 1 Cor. 15:3‑8).

Francamente, eu acredito que aqueles que veem a apologética como fútil na evangelização simplesmente não evangelizam muito. Eu suspeito que eles tenham tentado usar argumentos apologéticos em alguma ocasião e o descrente continuou sem ser convencido. E por isso eles tiraram a conclusão de que a apologética não é eficaz na evangelização.

Por um lado essas pessoas são vítimas de uma falsa expectativa. Quando você observa que somente uma minoria das pessoas que ouvem o Evangelho o aceitam e que só uma minoria desses que aceitam o fazem por razões intelectuais, não deveríamos nos surpreender que o número de pessoas com as quais a apologética é eficaz é relativamente baixo. Mas pela própria natureza da questão, devemos esperar que a maioria dos descrentes permaneçam não convencidos pelos nossos argumentos apologéticos, assim como a maioria permanece imóvel à pregação da cruz.

Bem, então, porque se preocupar com a minoria da minoria com a qual a apologética é eficaz? Primeiro, por que toda pessoa é preciosa para Deus, uma pessoa pela qual Cristo morreu. Como um missionário chamado para alcançar um grupo obscuro, o apologista cristão é chamado para alcançar a minoria das pessoas que responderão à argumentação e evidência racional.

Mas, segundo - e aqui o caso difere significantemente do caso do grupo de pessoas obscuras -, esse grupo de pessoas, apesar de relativamente pequeno em números, é grande em influência. Uma dessas pessoas, por exemplo, foi C.S. Lewis. Pense no impacto que a conversão de um homem continua a ter! Eu acho que as pessoas que mais se entusiasmam com meu trabalho apologético tendem a ser engenheiros, pessoas da área de medicina, e advogados. Tais pessoas estão entre os mais influentes formadores de opinião hoje. Então alcançar essa minoria de pessoas gerará uma grande colheita para o Reino de Deus.


De qualquer forma a conclusão geral de que a apologética é ineficaz na evangelização é precipitada. Lee Strobel recentemente me disse que perdeu a conta do número de pessoas que vieram a Cristo através de seus livros Em Defesa de Cristo e Em Defesa da Fé. Na minha experiência pessoal tenho experimentado a eficácia da apologética na evangelização. Estamos continuamente animados em ver pessoas comprometendo suas vidas a Cristo através de apresentações apologéticas do Evangelho. Após uma conversa sobre os argumentos a favor da existência de Deus ou sobre as evidências para a ressurreição de Jesus ou uma defesa do particularismo Cristão, eu frequentemente concluo com uma oração de aceitação a Cristo, e os cartões de comentário indicam aqueles que registraram tal compromisso. Essa última primavera eu fiz uma turnê pelas Universidades de Illinois, e nós ficamos muito animados ao ver que após praticamente toda apresentação, os estudantes fizeram decisões por Cristo. Eu cheguei a ver estudantes virem a Cristo através de uma defesa do argumento cosmológico kalam!


Uma das mais emocionantes foi o caso de Eva Dresher, uma física polonesa que eu encontrei na Alemanha logo após completar meu doutorado em filosofia. Enquanto eu e Jan conversávamos com Eva, ela mencionou que a física havia destruído sua crença em Deus e que a vida tinha se tornado sem sentido para ela. "Quanto eu olho para o universo tudo que eu vejo é escuridão", ela explicou, "e quando eu olho para mim mesmo tudo que eu vejo é sombrio". (Que dolorosa declaração do predicamento moderno!) Bem, nesse momento Jan se voluntariou, "Ah, você deveria ler a dissertação do doutorado do Bill! Ele usa a física para provar que Deus existe." Então lhe emprestamos minha dissertação sobre o argumento cosmológico para ela ler. Ao longo dos dias, ela se tornava cada dia mais animada. Quando ela chegou na seção sobre astronomia e astrofísica, ela estava muito alegre e orgulhosa. "Eu conheço esses cientistas que você está citanto!" ela exclamou maravilhada. Quando ela chegou ao final, sua fé havia sido restaurada. "Obrigado por me ajudar a crer que Deus existe", ela disse.


Nós respondemos, "Você gostaria de conhecê-lO de uma maneira pessoal?" Então marcamos um horário para encontrá-la naquela noite num restaurante. Enquanto isso preparamos de memória as Quatro Leis Espirituais. Depois do jantar nós abrimos o livreto e começamos, "Assim como existem leis físicas que governam o universo físico, assim também existem leis espirituais que governam nosso relacionamento com Deus..."

"Ah, leis físicas! leis espirituais!" ela exclamou. "Isso é exatamente para mim!" Quando chegamos aos círculos no final que representam duas vidas e lhe perguntamos qual círculo representava sua vida, ela colocou sua mão sobre os círculos e disse, "Ah, isso é tão pessoal! Eu não posso responder agora." Então nós lhe encorajamos a levar o livreto para casa e entregar sua vida a Cristo.

Quando nós a vimos no dia seguinte, sua face estava radiante de alegria. Ela nos disse que havia ido para casa e na privacidade do seu quarto orou para receber a Cristo. Então ela jogou no vaso todo o vinho e os tranquilizantes que ela vinha usando. Ela era uma pessoa verdadeiramente transformada. Nós lhe demos uma Bíblia Good News [Boas Novas] e lhe explicamos a importância de manter uma vida devocional com Deus. Nossos caminhos se distanciaram por muitos meses. Mas quando nós a vimos novamente ela ainda estava entusiasmada com sua fé, e ela nos disse que suas posses mais preciosas eram a Bíblia Good News e seu livreto das Quatro Leis Espirituais. Isso foi uma das mais vívidas ilustrações que eu vi de como o Espírito Santo pode usar argumentos e evidências para levar as pessoas a um conhecimento salvifíco de Deus.

Tem sido emocionante, também, ouvir histórias de como as pessoas tem vindo a Cristo através da leitura de algo que eu escrevi. Por exemplo, quando eu estava falando em Moscou, alguns anos atrás, eu encontrei um homem de Minsk em Belarus. Ele me disse que logo após a queda do comunismo ele havia ouvido alguém lendo em Russo meu livro The Existence of God and the Beginning of the Universe [A Existência de Deus e o Ínicio do Universo] pelo rádio em Minsk. No final da transmissão ele havia sido convencido de que Deus existia e entregou sua vida a Cristo. Ele me disse que hoje ele serve ao Senhor numa Igreja Batista em Minsk. Glória a Deus! Mais cedo nesse ano na Universidade do Texas, eu encontrei uma mulher que estava participando de minhas preleções. Ela me disse chorando que por 27 anos ela havia estado longe de Deus e se sentido desesperançada e sem sentido. Pesquisando numa livraria ela achou meu livro Will the Real Jesus Please Stand Up? [O Verdadeiro Jesus, por favor, levante-se], que contém meu debate com John Dominic Crossan, co-presidente do radical Seminário Jesus, e comprou uma cópia. Ela disse que enquanto lia, ela ia se abrindo a Cristo, até que finalmente entregou sua vida a Ele. Quando eu perguntei o que ela fazia, ela disse que era psicóloga e trabalhava numa prisão feminina do Texas. Pense na influência cristã que ela pode ter num ambiente tão desesperançoso!

Se eu puder, quero contar uma última história. Nos últimos anos eu tive o privilégio de me envolver em debates com apologistas muçulmanos em vários campus no Canadá e Estados Unidos. Esse verão, numa manhã de Sábado, eu recebi uma ligação. A voz do outro lado da linha anunciou, "Olá! Aqui é Sayd al-Islam ligando de Omã!" aí eu pensei, "ah, não! Eles me encontraram!" Ele continuou e explicou que ele havia perdido sua fé muçulmana secretamente e havia se tornado ateu. Mas agora lendo vários livros apologéticos cristãos, que ele havia comprado na Amazon.com, ele passou a crer em Deus e estava prestes a se comprometer com Cristo. Ele estava impressionado com as evidências para a ressurreição de Jesus e havia me ligado porque ainda tinha muitas perguntas que precisavam ser respondidas. Nós conversamos por uma hora, e eu senti que no seu coração ele já cria em Cristo; mas ele queria ser cauteloso e ter certeza que tinha as evidências certas antes de dar o passo conscientemente. Ele me explicou, "Você entende que eu não posso lhe dizer meu verdadeiro nome. No meu país eu tenho que levar um tipo de vida dupla por que senão eu sou morto." Eu orei com ele para que Deus continuasse a guiá-lo em direção à verdade, e então nos despedimos. Você pode imaginar quão grato a Deus meu coração ficou por Ele ter usado esses livros - e a internet! - na vida desse homem! Histórias como essa são inúmeras e, é claro, nunca ouvimos todas elas.

Então aqueles que dizem que a apologética não é eficaz com os descrentes falam a partir de sua experiência limitada. Quando a apologética é persuasivamente apresentada e combinada sensivelmente com uma apresentação do Evangelho e um testemunho pessoal, o Espírito de Deus usa isso para trazer certas pessoas para Si. A apologética é necessária nesses casos? Essas pessoas teriam vindo a Cristo de qualquer forma, mesmo se não tivessem ouvido os argumentos? Acredito que temos que dizer, "Só Deus Sabe!" No mínimo, Ele sabe se Ele tem conhecimento-médio, certo? Podemos não saber o valor de verdade de tais contrafatuais da liberdade; mas nós podemos saber e sabemos por experiência que Deus usa a apologética na evangelização para trazer os perdidos a Ele.

Concluindo, a apologética cristã é uma parte vital do currículo teológico. Apesar de não ser necessária para garantir a crença Cristã, ela é, eu acredito, todavia suficiente para garantir a crença cristã e, portanto, de grande benefício. A apologética executa um papel vital, e talvez crucial, na transformação da cultura, no fortalecimento dos crentes, e na evangelização dos descrentes. Por todas essas razões, eu estou não-apologeticamente entusiasmado com a apologética cristã.


Notas:

1 Eu acho que epistemologistas Reformados como Alvin Plantinga puderam oferecer um modelo epistemológico, no qual, se o teísmo cristão for verdadeiro, mostra que a crença cristã pode ser garantida na ausência de argumentos apologéticos. Eu devo apenas ajustar esse modelo para os propósitos da teologia cristã eliminando o tão chamado sensus divinitatis, que não encontra nenhuma base nas Escrituras, em favor do testimonium Spiritu Sancti internum, ou o testemunho interno do Espírito Santo, que é atestado nas Escrituras. Além do mais, ao invés de tomar o testemunho do Espírito como um processo formador de crença análogo a uma faculdade cognitiva (um constructo que torna difícil assegurar que é literalmente verdade que "eu creio em Deus," visto que a faculdade ou processo não é meu), eu devo entender o testemunho do Espírito como um forma de testemunho produzido pelo Espírito de Deus em mim ou como parte das circunstâncias que fundamentam a crença que eu formo em Deus e nas grandes verdades do Evangelho.


2. Alguns epistemologistas reformados, apesar de endossarem os argumentos da teologia natural, todavia, expressam ceticismo em relação aos prospectos da apologética histórica porque quando é adicionado mais especificidade a uma hipótese, a probabilidade dessa hipótese diminui rapidamente. Tal objeção é, entretanto, duplamente equivocada. Primeiro, as probabilidades não precisam diminuir e podem, na verdade, aumentar ao se acrescentar progressivamente evidências especificas para a informação prévia de alguém pelo refinamento das hipóteses. O erro da objeção é que esta afirma que a base evidencialista é constante enquanto adiciona hipóteses adicionais, ao invés de aumentar as evidências ao falarmos de crenças cristãs especifícas. Segundo, de qualquer forma os historiadores não avaliam hipóteses históricas através de cálculos probabilísticos. Ao invés, eles usam como critério de avaliação a extensão explanatória, o poder explanatório, o grau de ad hoc, e por aí vai. Esse é o meio pelo qual eu argumento a favor da hipótese da Ressurreição.

 
Free Host | lasik surgery new york